Hospitais do Porto na vanguarda da tecnologia. "App" para pacientes e simulador para médicos
Uma aplicação que facilita o acesso dos utentes aos diferentes serviços no Centro Hospitalar S. João. Simuladores que permitem um ensino realista aos futuros médicos em formação no Instituto de Ciências Abel Salazar e no Centro Hospitalar Universitário do Porto, que integra o Santo António.
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O trabalho na saúde exige cada vez mais inovação e os hospitais portuenses apostam forte na tecnologia. No caso do ensino, trata-se de uma forma também de ultrapassar os constrangimentos determinados pela pandemia de covid-19, que limita o acesso dos estudantes às instalações. No caso do Hospital de S. João, a aplicação permite aos utentes ganhar tempo e garante um acompanhamento permanente sempre que dão entrada na urgência. A ferramenta ficou disponível nesta semana e já foi descarregada mais de quatro mil vezes.
Com sistema de senhas no telemóvel, utentes ganham tempo
Tudo vai depender da literacia digital dos utentes, mas estima-se que pelo menos metade dos doentes do Hospital de S. João, no Porto, acedam aos serviços através da aplicação "My São João". A ferramenta ficou disponível esta semana nos sistemas Android e Apple e promete criar "uma relação mais próxima com os utentes".
Isto porque o sistema de senhas para consultas, ambulatório, realização de exames e admissão nas urgências está integrado na app, poupando tempo. Mais: após o download e registo com o número de utente, todo o histórico médico fica disponível. "A sincronização é automática", esclarece Maria João Campos, diretora do serviço de Tecnologias de Informação e Computação do hospital. O software foi desenvolvido em parceria com a Seamlink.
A marcação de primeiras consultas, por se tratar de um novo doente, continua a cargo do Serviço Nacional de Saúde, não sendo possível fazer através da app.
Mas em poucos dias, acrescenta Maria João Campos, a aplicação já foi descarregada mais de quatro mil vezes. Todas as especialidades do hospital estão preparadas para aceder à ferramenta, permitindo a realização de consultas à distância.
designar acompanhante
Para já, é na urgência que a app pode fazer a maior diferença. "A inscrição é automática, com quatro ou cinco cliques e, através de um QR code [que está disponível à entrada da sala das Urgências], é permitida a passagem quase imediata para a triagem", explica Nélson Pereira, diretor da Unidade Autónoma de Gestão (UAG) de Urgência e Medicina Intensiva.
Trata-se de "ganhar tempo para o doente, que não precisa de aguardar em fila o momento da inscrição", esclarece. Antes de concluir a admissão, o doente pode ainda nomear um acompanhante. Com isso, o familiar ou amigo - que também deve ter a ferramenta instalada -, poderá acompanhar em tempo real o percurso do utente. Basta colocar o nome e o número de telemóvel para saber "se já foi observado, se já fez exames, se vai ter alta ou se vai ficar internado", esclarece o médico.
Futuros médicos vão passar a ver doentes na ponta dos dedos
Imagine um daqueles ecrãs táteis dos centros comerciais que servem para localizar uma determinada loja. Uma mesa digital similar vai passar a ser usada pelos alunos do Instituto de Ciências Abel Salazar (ICBAS) e do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP), que integra o Santo António, como um simulador de casos que todos os dias chegam às Urgências.
Na prática, o ecrã passa a ser uma maca, com um doente deitado, onde é simulada de uma forma realista uma grande variedade de casos clínicos.
Paulo Barbosa, presidente do Conselho de Administração do CHUP, referiu que os 25 equipamentos adquiridos vão "integrar o ensino tradicional com a simulação", explicando que este "passo diferente" vai "permitir ultrapassar os constrangimentos provocados pela pandemia", uma vez que só um número restrito de alunos tem acesso ao hospital.
No final da primeira aula com recurso à inovadora plataforma "Body-Interact", o simulador virtual 3D do ser humano, os alunos de Semiologia Tomás Araújo, de 22 anos, e Carolina Pires, de 21, do 3.º ano, identificaram algumas mais-valias da ferramenta, que pode ser usada em casa, através do telemóvel ou tablet.
"É uma plataforma excelente para o conhecimento mais empírico, uma vez que não temos tido muito acesso ao hospital, por conta da covid-19. Logo, quando chegarmos à Urgência já teremos mais experiência", resumiu Tomás. Já Carolina salientou o facto de o simulador ser "muito intuitivo e realista".
"Ambiente isento de risco"
À urgência virtual chegou ontem um homem, de 48 anos, com 39 graus de febre, a queixar-se "de dor lombar do lado esquerdo", que "há dois dias urinava sangue". Após uma série de procedimentos, os alunos decidiram "encaminhar o doente para a Urologia para resolver a situação de cálculos renais". A professora Idalina Beirão destacou que os simuladores vão servir para "treinar a abordagem de diagnóstico dos doentes, num ambiente isento de risco, permitindo aos alunos aprenderem a trabalhar em equipa".