Na pandemia, o Hospital de Gaia foi "um caso de sucesso" aos olhos do Instituto Padre António Vieira (IPAV), que está a estudar os impactos invisíveis da covid-19 no concelho. Já na primeira vaga, a unidade atendeu utentes a partir de casa e evitou a paralisação do serviço, chegando a ter um "hotel" para infetados.
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Na primeira onda da pandemia, Serafim Guimarães cooperou no gabinete de crise do Centro Hospitalar de Gaia. "Na altura foi complicado, mas é inegável que trabalhámos muito bem", disse o médico, que ajudou o Conselho de Administração a organizar as equipas e os meios durante a primeira vaga.
Da primeira vaga para a segunda, Serafim Guimarães declara que as coisas foram "muito mais controladas e tranquilas". Mas a resposta inicial do Hospital de Gaia é tida como um exemplo.
Já em março de 2020, o Parque Biológico de Gaia funcionou como um "hotel positivo". Foi assim que chamaram ao espaço que, naquela altura, serviu para acolher várias pessoas infetadas que não podiam voltar para casa, onde podiam colocar outros familiares em risco.
"Também passámos a ter as consultas de contingência, que consistiu em termos equipas a atender chamadas de doentes a partir de casa, o que permitiu não entupir o hospital", disse Serafim Guimarães.
"Na altura era tudo desconhecido e passámos a ter dois hospitais, um para positivos e outro para negativos", disse Serafim Guimarães. "Pararam as cirurgias e as enfermarias passaram a ser destinadas a pessoas infetadas com covid. Um cenário que não estava previsto e para o qual ninguém estava preparado", continuou.
Habitualmente, e antes dos primeiros casos por covid-19 aparecerem no país, o Centro Hospitalar de Gaia estava preparado com 12 camas destinadas para cuidados intensivos. Mas o número aumentou rapidamente na primeira semana da pandemia no país, e o hospital aumentou a capacidade para 52 camas.
Mas a adaptação, resiliência e rápida resposta às adversidades fazem do centro hospitalar "um caso de estudo muito importante para o futuro", referiu ao JN o diretor do IPAV, Rui Marques, no âmbito do estudo, do qual o JN é parceiro, que está a investigar os impactos invisíveis da pandemia em Gaia e que tem por objetivo "transformar a experiência em conhecimento".
A investigação ainda não terminou e os gaienses ainda podem participar através da resposta a dois inquéritos, destinados à área da saúde e à comunidade em geral.
Pandemia destapou insuficiências do SNS
Apesar dos meios e do reforço e investimento nos recursos, Serafim Guimarães sublinha que "são as pessoas que aprendem com estas situações e são elas que estão mais preparadas para futuras situações de contingência".
"No fim de qualquer atividade, acho que é importante que se faça uma análise e se tirem conclusões", declara o profissional.
Segundo o médico, a pandemia foi ainda um grande desafio para o Serviço Nacional de Saúde (SNS): "O serviço não esteve bem em tudo e este período destapou as insuficiências que existem". Ainda assim, Serafim Guimarães acredita que as pessoas passaram a reconhecer mais a importância do SNS.