O Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, é pioneiro em Portugal, ao ter estreado, esta segunda-feira, uma cirurgia em ambulatório para quem tem excesso de peso, com a novidade que o doente pode ir para casa no dia da operação.
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Ana Paula, com 93 quilos, era a última a ir para o bloco. Estava animada. A operação, prestes a acontecer, representava o culminar de um processo que dura há três anos. A ida à faca foi uma decisão muito bem maturada. Antes, Maria Fernanda, com 114 quilos, já tinha sido alvo do bisturi e da sabedoria de uma vasta equipa. As duas haviam sido precedidas por uma terceira mulher, também intervencionada devido ao excesso de peso (92 quilos).
A manhã, no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, foi de novidades. Pela primeira vez, em Portugal, este tipo de tratamento de obesidade fez-se em regime de ambulatório. Ou seja, o doente pode ir para casa no próprio dia da cirurgia. O encurtamento também permite ao hospital acelerar processos e diminuir a lista de espera.
A "boa notícia" do ambulatório reforçou o estado de espírito de Ana Paula, ansiosa por terminar com o martírio dos quilos a mais, com repercussões no estado de saúde. Por coincidência, Ana Paula até é enfermeira no Pedro Hispano e subir lanços de escadas, algo que fazia naturalmente, agora torna-se "mais difícil".
Gil Faria, o responsável pela Unidade de Tratamento Cirúrgico de Obesidade, anota que "80% dos casos que trata são de mulheres". Explica que a sociedade tolera melhor a barriguinha nos homens. Mas, acima de tudo, o que está em causa com as gorduras é a "perda de qualidade de vida".
Para resolver o problema, a unidade de saúde matosinhense recorre a uma técnica denominada "sleeve gástrico". A designação é simplista e traduz aquilo que se faz em termos clínicos: "Grastrectomia vertical laparoscópica, que consiste na remoção de uma parte do estômago, diminuindo a capacidade de armazenamento de comida, regulando o apetite e induzindo perdas de peso duradouras".
No caso de Maria Fernanda, a operação "correu bem". O JN assistiu e o tempo passou a correr. Menos de uma hora. Com Gil Faria a orientar, mediante o manuseamento de instrumentos e a monitorização através de um ecrã, que projetava o interior do corpo, extraíram-se gorduras e parte do estômago e foram feitas as devidas suturas.
A equipa contou com oito profissionais no bloco e o objetivo é levar por diante a redução do peso da paciente, a quem caberá, agora, fazer a sua parte, cumprindo "uma dieta à base de líquidos, que passará depois a uma dieta normal".
Em Matosinhos, o tempo médio de espera para o tratamento cirúrgico é de um ano. Com o ambulatório, uma vez por mês, mais doentes serão chamados. Por ano deverão ser cerca de uma centena.