No segundo semestre do próximo ano, o Hospital de S. João, no Porto, vai ter um centro de ciência e inovação, em que serão concentrados os ensaios clínicos com medicamentos inovadores para doentes em ambulatório. Além de proporcionar melhores condições a profissionais e utentes, o centro vai permitir aumentar a capacidade de resposta nesta área de investigação.
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Com um novo espaço para concentrar toda a logística, haverá também ganhos em termos de tempo. Atualmente, os 95 ensaios clínicos ativos do S. João estão dispersos pelo hospital, em termos de recursos humanos e de equipamentos. Em 2023, tudo ficará a funcionar num único edifício, a construir de raiz numa área adjacente à consulta externa, o que vai igualmente minimizar a entrada de pessoas nas instalações centrais.
"Quando não há uma dinâmica de um centro de inovação, há muita coisa que se perde. É necessário um local físico para as pessoas estarem juntas a desenvolver o seu trabalho e a potenciar novas ideias", refere ao JN Maria João Baptista. A diretora clínica do S. João estima que quando o centro estiver a funcionar seja possível duplicar o número de ensaios clínicos ativos, "com excelentes ganhos em saúde para os doentes, mas também para a instituição e para o país".
Aumentar a capacidade em termos de investigação e o número de doentes que tomam medicamentos inovadores serão os benefícios mais óbvios. Para o utente em tratamento, acresce o facto de ser atendido num só espaço. A responsável refere que será "um processo cirúrgico", no sentido de ser muito mais rápido.
Além de potenciar a investigação nas áreas em que o S. João já está a trabalhar, o futuro centro vai permitir ao hospital avançar nos ensaios clínicos a nível de terapia génica, que consiste na introdução de um gene que transmite às células do doente informação para produzir a proteína que o organismo não consegue produzir.
Entre os beneficiários dos ensaios em curso está uma panóplia muito grande de doentes e, em certos casos, "doentes muito complexos", sublinha. Um dos exemplos é dado pelas pessoas afetadas pelas doenças autoimunes, que, além de serem muito limitativas, podem afetar uma série de órgãos, como o coração, o pulmão ou o rim.
Orçado em 200 mil euros, o novo edifício será construído através do mecenato (Super Bock, Maria Fernanda Amorim e Grupo Fuste). A diretora clínica realça o facto de os mecenas terem percebido "a importância e o alcance do projeto" e, dessa forma, contribuírem para que o hospital preste um serviço à comunidade. "É um retorno para a sociedade", conclui.
Em todos os países, os ensaios clínicos permitem aos doentes o acesso a medicamentos novos em áreas com uma gravidade e com um grau de conhecimento muito específicos. Tais medicamentos, por seu lado, exigem mais rigor, mais certezas em termos de segurança e um acompanhamento mais criterioso dos pacientes.
Os 95 ensaios ativos no Hospital de S. João estendem-se, entre outras, a especialidades como oncologia, hematologia (em particular na área oncológica), doenças autoimunes, oftalmologia, doença cardíaca, pediatria (oncológica e não oncológica), pneumologia, infecciologia e gastrenterologia.