Chama-se Da Vinci e trará "inúmeras vantagens, quer para o cirurgião, quer para o doente".
Corpo do artigo
A cirurgia robótica está amplamente difundida pela Europa e em Portugal, até agora, apenas os hospitais privados e o Curry Cabral, em Lisboa, possuem um robô cirúrgico. No caso do Curry Cabral, o robot foi oferecido e portanto, aquele que nos próximos dias vai ser instalado no Hospital de S. João, no Porto, é o primeiro adquirido pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), tendo custado 1,5 milhões de euros.
A cirurgia minimamente-invasiva com recurso à cirurgia robótica já demonstrou ser uma abordagem com inúmeras vantagens do ponto de vista do cirurgião, bem como do ponto de vista do doente. "Vai permitir fazer cirurgias mais complexas, abordar zonas anatómicas que, quer por laparoscopia (utilização de pequenas incisões), quer por cirurgia aberta, são difíceis de atingir e desta forma conseguimos maior radicalidade sobretudo na doenças oncológica", explicou ao JN Elisabete Barbosa, diretora do serviço de Cirurgia do S. João.
As vantagens são consideráveis quer para o utente quer para o cirurgião e, assim que o robô cirurgião Da Vinci (nome dado ao equipamento) começar a operar. O doente terá uma recuperação mais rápida no pós-operatório (física e funcional), com menos queixas álgicas, uma diminuição da hemorragia intra-operatória com menor necessidade de suporte transfusional, menor tempo de hospitalização e menor necessidade de reintervenções.
Já o médico ganhará um maior conforto ergonómico com menor cansaço que se vai traduzir na qualidade da cirurgia realizada, uma maior precisão de movimentos, a eliminação do tremor fisiológico do cirurgião, a ambidestria, uma plataforma de câmara estável, uma imagem tridimensional com alta definição, instrumentos flexíveis que permitem uma maior amplitude de movimentos, um melhor acesso a áreas anatómicas complexas com uma melhor visualização da anatomia e planos de dissecção, tudo isto aliado a uma radicalidade oncológica comparável com a abordagem aberta e com uma curva de aprendizagem mais curta quando comparada com a abordagem laparoscópica.
"Em cirurgias que demoram seis a sete horas esta nova tecnologia elimina o cansaço que será traduzido numa melhor qualidade da cirurgia. E evita o tremulo. Por muito pouco tremulo que o cirurgião tenha, com o robô não terá tremulo nenhum, evitando-se até possíveis erros", acrescenta Elisabete Barbosa.
Nesta primeira fase, o Da Vinci será utilizado na prostatectomia radical, cistectomias radicais e nefrectomias parciais, assim como nas neoplasias do pâncreas e do fígado. "Numa fase seguinte, a cirurgia robótica será extensível a todas as áreas, à obesidade, à cirurgia toráxica, à cirurgia da parede complexa. O objetivo é chegar a todas a especialidades", salienta a diretora do serviço de Cirurgia. De referir que o robô nunca atuará por si, e cada procedimento será acompanhado por dois médicos que através de uma consola comandam os movimentos da máquina.
Maior necessidade de resposta
Em plena utilização estima-se a realização de 846 cirurgias por ano neste equipamento, o equivalente a uma utilização diária de segunda a quinta-feira, de manhã e de tarde, e sexta-feira no período da manhã. De acordo com Centro Hospitalar Universitário de S. João (CHUSJ), esta aquisição de um equipamento de cirurgia robótica "visa fundamentalmente a melhoria da qualidade da atividade assistencial da instituição". O Da Vinci, "vai permitir um significativo avanço na modernização da sua atividade cirúrgica, assumir-se como um centro de referência na formação de novos cirurgiões e minimizar o risco de erro associado a qualquer intervenção cirúrgica pela uniformização dos procedimentos".
Outra vantagem demonstrada prende-se com a "melhoria dos resultados alcançados, por esta tipologia de intervenção, na doença oncológica, área em que o CHUSJ é centro de referência a nível nacional". Por outro lado, explica Elisabete Barbosa, "permitirá que pessoas que não podem recorrer ao privado possam ter este tipo de cirurgia no SNS".
Atividade cirúrgica de referência
No ano de 2021, o CHUSJ superou as 53.500 cirurgias, registo mais elevado alcançado pela instituição e o mais elevado a nível nacional no ano. A atividade cirúrgica realizada na instituição representa a nível nacional 8% do total e a nível regional 17%.
"A introdução de inovação tecnológica para acompanhar a diferenciação na prestação de cuidados que caracteriza a instituição, torna-se imprescindível para manter esta dinâmica na atividade cirúrgica, que coloca o CHUSJ na posição de líder a nível nacional", refere a unidade de saúde.