Familiares de um homem que morreu em Outubro de 2009 em Sátão, após uma rixa à sacholada com o vizinho, que também ficou ferido, recusam-se a pagar a conta hospitalar do “suspeito” da agressão. O Hospital de S. Teotónio avisa que a conta seguiu para os dois.
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Em meados de Maio, mulher e filhos de António Varela, de 76 anos, que morreu após a discussão com o vizinho, Acácio Nunes, da mesma idade, nem queriam acreditar que o Hospital de Viseu lhes estivesse a cobrar 147 euros pelo episódio de Urgência do alegado agressor.
“É um absurdo. Uma situação insólita. Então o meu sogro morreu, com a cabeça desfeita pelas pauladas que o vizinho lhe deu, e nós ainda temos de pagar os tratamentos que lhe fizeram. Isto é de loucos!”, afirma indignada a nora, Vírgínia Mota, que entregou o caso ao advogado da família. “Não pagamos. Essa decisão cabe ao tribunal”.
A nora de António Varela critica, ainda, o facto de o Hospital de S. Teotónio ter enviado a conta não à sua viúva, mas ao mais velho dos seus sete filhos. “Há coisas que não se compreendem. Mas quando for o julgamento, ainda sem data marcada, o homem que matou o meu sogro vai pagar isto tudo”, avisa a familiar do morto.
A casa da família de António Varela também já chegou a factura dos hospitais de Coimbra, de milhares de euros, pela operação e tratamentos a que o homem foi sujeito após ser transferido de Viseu. E onde morreu dois dias depois. “Essa é que vai doer. Ele [o suspeito] terá de pagar tudo isto”, garante a mesma nora.
Acácio Nunes, pedreiro, o homem acusado pelos filhos da vítima de ser responsável pela sua morte, também recebeu em sua casa, em Maio, uma conta do Hospital de S. Teotónio para pagar.
“São quase 250 euros. Recebi a factura do Hospital em Maio. Diziam que tinha 25 dias para liquidar as despesas hospitalares do meu vizinho António Varela”.
O homem admite que as relações com o vizinho nunca foram “muito boas”, mas garante que no dia 11 de Outubro de 2009, devido à vedação de um terreno baldio na aldeia de Rãs, ele é que foi agredido.
“Ele deu-me com o sacholito e rachou-me a cabeça. Levei uma dúzia de pontos. Depois, como estava embriagado, como sempre, caiu de costas, bateu com a cabeça numa pedra, levantou-se e voltou a cair de frente. Peguei no sacholito e piquei-o nas costas. A minha mulher, ao ver-me coberto de sangue, deu-lhe umas mangueiradas nas nádegas e foi tocar o sino a rebate para chamar o povo”, relata Acácio Nunes.
“A Polícia Judiciária levou tudo para análise. O sangue na sachola e na roupa e a autópsia vão confirmar aquilo que digo. Não agredi o meu vizinho na cabeça. Ele feriu-se ao cair”, assevera.
O Hospital de S. Teotónio classificou de “procedimento normal” o que foi feito relativamente a este caso. “Nas Urgências, cada um dos utentes indicou o outro como agressor. Uma situação confirmada pelos familiares, por escrito, antes do envio das facturas. Nestes casos, quem é apontado como agressor paga a conta do agredido. Foi o que fizemos”, explica Luís Viegas, do Serviço de Relações Públicas do S. Teotónio.
O porta-voz do hospital avisa que o Serviço Nacional de Saúde não pode pagar despesas provocadas por rixas, em que os autores são identificados. “Se uma pessoa se magoa sozinha, está tudo pago. O contrário é que não. De resto, a factura não foi apenas para a família do homem que morreu, mas também para a outra.”