Profissionais do serviço estão a receber formação em técnicas diferenciadas de ventilação de doentes. Capacetes respiratórios muito usados em Itália foram "fundamentais em momentos de rutura".
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Os profissionais do Serviço de Urgência do Hospital de S. João, no Porto, estão a receber formação em técnicas diferenciadas de ventilação de doentes. A decisão foi tomada numa altura em que a pressão sobre as unidades de cuidados intensivos (UCI) e enfermarias não pára de aumentar e o risco de rutura é real.
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Na estreia do primeiro fim de semana com recolher obrigatório às 13 horas, Portugal somou 6602 novos casos - foi o terceiro pior dia de sempre - e 55 mortes por covid-19. Em 24 horas, mais 25 doentes entraram em situação crítica, fazendo subir para 413 o número de internados em UCI. A Região Norte é de longe a mais afetada: ontem teve 63% dos novos casos.
Para tentar estar um passo à frente, enfermeiros e médicos da Urgência do S. João estão a aprender a usar os capacetes respiratórios (helmets), um dispositivo de ventilação não invasiva muito usado em Itália na primeira fase da pandemia. Foram técnicas de suporte que se revelaram "fundamentais em momentos de rutura" noutros países, refere Nélson Pereira, coordenador da equipa covid da Urgência do Hospital de S. João, numa publicação nas redes sociais esta semana.
"Prever o dia a seguir"
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Referindo-se às limitações de camas covid e não-covid que o país enfrenta, o especialista defende que é preciso "prever o dia a seguir,... aquele dia em que não há mais camas e em que teríamos de encontrar soluções alternativas para "aguentar" os doentes no SU [Serviço de Urgência] enquanto não têm para onde ir". E acrescenta que é "por isso" que está a ser feita "formação a todos os elementos do SU em técnicas de suporte que noutros países se revelaram fundamentais em momentos de rutura".
Ao JN, o Centro Hospitalar Universitário de S. João não confirma que o objetivo desta formação seja preparar para uma eventual rutura de camas, mas refere que a formação no uso dos "helmets" se dirige "a todos os profissionais médicos e de enfermagem do SU e já se encontra em curso".
Para o hospital "é fundamental que todos os profissionais do Serviço de Urgência, bem como das unidades de cuidados intermédios e intensivos, tomem contacto com os mesmos e os possam utilizar em caso de necessidade".
A utilização dos "helmets" não é nova no país. Na primeira vaga foram usados no Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, que volta a estar muito pressionado no internamento e cuidados intensivos.
Feira compra mais
Ao que JN apurou, no Hospital da Feira há, neste momento, mais doentes a precisar do que capacetes disponíveis. O hospital está a aguardar a entrega de mais "helmets" e respetivos sistema de oxigénio para apetrechar a nova unidade de cuidados intensivos, que deverá abrir na próxima semana. Esta nova UCI, como o JN noticiou ontem, terá 20 camas para doentes covid e vai funcionar no espaço da cantina do hospital.
O JN questionou o Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, mas não obteve respostas em tempo útil.