Funcionários do ramo da hotelaria são dos mais afetados pelas consequências da pandemia. Sindicato alerta para situação de fragilidade económica de várias famílias.
Corpo do artigo
"Até podiam passar a pagar menos, porque todos sabemos que estamos a viver uma situação muito difícil e que ninguém esperava. Mas o mais importante era assegurarem os postos de trabalho." É desta forma que, aos 53 anos, Arménia Ferreira reage, indignada, ao facto de ter sido informada de que o seu contrato de trabalho não será renovado.
A trabalhar há mais de um ano no Hotel Pestana Porto - A Brasileira, na Baixa do Porto, Arménia é uma das muitas pessoas que, segundo Nuno Coelho, representante do Sindicato dos Trabalhadores da Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Norte, foram atiradas para uma situação de "fragilidade económica" por causa das consequências da pandemia do novo coronavírus no ramo da hotelaria.
Segundo o dirigente sindical, os cerca de 90 hotéis do Porto "estão praticamente todos encerrados" e os poucos que se mantêm abertos asseguram apenas serviços mínimos. Nos últimos dias, o sindicato recebeu "centenas de denúncias" relacionadas com a "não renovação dos contratos". Há ainda casos em que "os trabalhadores são forçados a ir de férias".
"Situação complicada"
Natural de Oliveira do Douro, Gaia, Arménia Ferreira diz que trabalhou até ao dia 14. "Nesse dia, vi que o meu horário dizia férias e depois fui informada de que o contrato não ia ser renovado", conta Arménia, temendo o futuro. "A idade não perdoa e não vai ser fácil arranjar trabalho."
O Pestana Hotel Group confirma que, "dada a situação provocada pela Covid-19", foi "decidido não renovar o contrato da colaboradora, tendo a mesma sido informada pessoalmente pela chefia e assinado a caducidade do contrato nos timings e termos legais para o efeito". O hotel assegura que a documentação para o subsídio de desemprego será entregue no final do contrato. Até lá, a empresa garante "toda a remuneração a que o contrato em vigor dá direito".
Situação idêntica vive Isabel Oliveira, 63 anos, funcionária da Keep Shining, empresa de serviços de limpeza que presta serviço em vários hotéis. Com a voz embargada, Isabel relata a "situação complicada" que está a viver. "O meu contrato era de oito meses e estava à espera de receber uma carta a dizer se ia ser renovado. Mas, dia 13 disseram-me que já não precisavam dos meus serviços", conta. Isabel assegura que trabalhou nos dois dias seguintes, sábado e domingo. "Na segunda-feira seguinte, era a minha folga e na terça apresentei-me ao serviço, mas não apareceu ninguém", recorda. "A 1 de abril, a firma depositou na minha conta 219 euros e uns dias depois mais 124 euros. Mas não tenho explicações nenhumas", acrescenta. Contactada pelo JN, a empresa não respondeu.
A Associação Portuguesa de Hotelaria e Turismo, disse não ter conhecimento de despedimentos junto dos seus associados e referiu que "todos eles aceitaram as orientações dadas, no sentido de fazerem os esforços necessários para assegurar salários e empregos".