Centro de Religiosidade Marítima foi inaugurado em Ílhavo e é o primeiro do género a ser criado em Portugal.
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Nas comunidades marítimas e piscatórias, o mar e a devoção estão, desde sempre, ligados de forma intrínseca. Quem vai ao mar pede para voltar. E foi com base nessa premissa que nasceu, em Ílhavo, terra de marinheiros, o primeiro centro de religiosidade de temática marítima em Portugal. Inaugurado no passado domingo, o Centro de Religiosidade Marítima funciona no renovado quartel dos bombeiros, na zona mais central da cidade, e é uma extensão do Museu Marítimo de Ílhavo (MMI).
"O MMI passa agora a ser composto pelo próprio museu, onde está o aquário dos bacalhaus e o centro de investigação, pelo Navio Santo André e por este Centro de Religiosidade Marítima. São três elementos que fazem parte do mesmo conceito", contextualiza Nuno Costa, coordenador da direção do museu.
A ideia surgiu inicialmente como forma de dar uso àquele edifício desocupado e, ao mesmo tempo, de trazer à luz do dia o espólio da paróquia de Ílhavo, que se encontrava armazenado há vários anos, com muitas obras de arte sacra. Mas acabou por ir mais longe. "As populações marítimas são muito de crenças, algumas até mais profanas do que religiosas. Não vamos trabalhar apenas a religiosidade de Ílhavo, mas a ligação do mar com as questões religiosas", explica Nuno Costa.
O novo espaço museológico conta com uma sala para exposições temporárias (ler caixa) e com quatro de exposições permanentes, cada uma subjugada a um tema: mar e devoção, fé ilhavense, tesouro e devoção ilhavense.
Relíquia
Um dos "tesouros" que pode ser visto pelo público é uma cruz peitoral do bispo D. Manuel Trindade Salgueiro, montada sobre relíquia de um pequeno fragmento das ossadas de Francisco Marto, um dos três pastorinhos de Fátima. Depois, entre esculturas e pinturas alusivas ao tema marítimo - incluindo uma obra contemporânea do pintor ilhavense Júlio Pires, feita especificamente para o local -, estão patentes no museu ex-votos (ofertas de agradecimento) que foram doados, ao longo dos anos, à paróquia. É exemplo a miniatura de um lugre bacalhoeiro, que integra, anualmente, o andor do Senhor Jesus dos Navegantes - e que vai continuar a sair à rua em dias de procissão. E há imagens de arte sacra, roupas e utensílios, entre outras peças.
"É um museu que merece ser visto com calma, porque tem boas explicações. Não é maçador e precisa de uma visita mais detalhada", convida Nuno Costa, membro integrante da equipa do MMI que montou o novo museu, juntamente com o curador Hugo Calão.
Das peças ali presentes, 70% pertenciam ao espólio da paróquia. As restantes, na sua maioria, integravam o arquivo do MMI, mas já tinham saído de exposição. Até ao final do ano, o recém-inaugurado espaço cultural, que recebeu cerca de 50 visitantes por dia, tem entrada gratuita.