Fogo lavrou durante a noite em Albergaria-a-Velha e ameaçou fábricas e casas.
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Há troncos de árvores caídos, secos, queimados e ainda a fumegar. Outrora verdejantes, as margens da estrada florestal que liga a Branca a Cristelo, em Albergaria-a-Velha, estão cinzentas e mostram bem a fúria das chamas que por ali passaram. A noite de anteontem e a madrugada de ontem foram de aflição. O fogo que tinha começado, durante o dia, no concelho vizinho de Oliveira de Azeméis, galgou terreno a uma velocidade inesperada. E, mal a noite caiu, já estava em Albergaria-a-Velha, à porta de várias empresas e habitações, em diversos pontos do concelho. Parte de uma fábrica ardeu, duas casas devolutas ficaram destruídas e ainda falta fazer contas certas aos hectares de área florestal ardida. Mas foram muitos.
O presidente da Câmara, António Loureiro, recorda-se de um incêndio parecido, há 12 anos. Só que, "a área que ardeu na altura, em três dias, foi semelhante à que ardeu agora, em sete horas". Estima-se que, entre Oliveira de Azeméis, Albergaria-a-Velha e Estarreja - onde o fogo também chegou - tenham ardido "mais de 2500 hectares". "Os bombeiros ficaram várias vezes no meio do incêndio. Houve alterações muito rápidas de vento, imprevisíveis e inconstantes. E muitas projeções", conta José Carlos Pinto, comandante distrital de operações de socorro.
Foi das projeções, precisamente, que Maria de Lurdes Antão, de 74 anos, mais teve medo. É que o fogo estava ali, no terreno à frente da sua moradia, em Cristelo, a consumir duas casas devolutas e vegetação. As chamas altas. E ela sabia que nas traseiras da sua habitação, onde estava com a filha e com a neta, havia madeira, palha e materiais de fácil combustão. "Se nos caísse ali uma "fragola", ardia tudo", atesta.
Eram 23 horas quando o incêndio chegou perto. "As casas devolutas ainda tinham quadros elétricos, que começaram a estourar. Parecia o fim do mundo", recorda Maria de Lurdes, que ainda vem ao portão com frequência, de manhã, confirmar se o pesadelo acabou mesmo.
Cinco quilómetros
Àquela hora da noite, as chamas também rondavam algumas empresas, na Zona Industrial de Albergaria-a-Velha. E, num dos casos, chegaram mesmo a consumir armazéns de uma empresa de "pellets". O incêndio em causa chegou a ter uma frente ativa com cinco quilómetros, que obrigou ao corte da circulação na A25, A29 e A1. Nas duas últimas, algumas viaturas tiveram mesmo que voltar para trás em contramão, auxiliadas por militares da GNR e por elementos da Brisa. No total, quase 500 operacionais combateram o fogo, dado como dominado ao final da manhã.