Esta terça-feira, uma mulher ficou com 70% do corpo queimado em Vale Perneto, uma casa foi engolida pelas chamas em Mogadouro de Baixo, e dois carros ficaram destruídos em Zambujais.
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A tristeza está espelhada no rosto de Filipe Lopes, 41 anos, e as palavras saem-lhe a custo. Ontem, a mulher, Sabine, de 38 anos, ficou com 70% do corpo queimado, quando tentou resgatar o tio de casa, durante um incêndio em Vale Perneto, freguesia de Abiúl, em Pombal. O idoso "não teve qualquer problema de maior", mas Sabine ficou internada no Centro Hospitalar Universitário de Coimbra.
Filipe Lopes esclarece que a mulher não ficou com queimaduras de segundo e de terceiro grau por ação direta do fogo, mas devido à intensidade do calor. "Só afetou a pele", explica, mas apanhou-lhe o corpo todo. "Só se livraram os pés", acrescenta, comovido. Impedido de passar devido às chamas, foi o INEM que levou Sabine para o hospital e a Junta de Freguesia que transportou as duas filhas, de 7 e 12 anos, de casa dos avós para Abiúl, quando começaram a evacuar a população.
A pouco mais de dois quilómetros de distância, em Mogadouro de Baixo, concelho de Ansião, o clima também era de consternação. Mário Valente, 55 anos, estava inconsolável junto à casa e ao barracão da mãe, Maria Arlinda Valente, de 83 anos, que foram anteontem devorados pelas chamas. Quando chegou ao local, no dia seguinte, o filho não conseguia conter as lágrimas. "Parece que caiu aqui uma bomba. É uma dor muito grande olharmos à volta da casa e não vermos nada que se possa aproveitar."
A residir em Lisboa com uma das filhas, Maria Arlinda ainda não sabia o desfecho do incêndio. "Vai ser um problema", antevê Mário Valente. A casa era usada como ponto de encontro da família aos fins de semana e durante as férias, época em que dois dos seus irmãos, emigrados na Suíça, vinham passar sempre temporadas a casa da mãe. O fogo também destruiu dois carros, uma carrinha e um trator. Emocionada, a filha de Mário, Bruna, de 14 anos, também lamenta a perda da piscina, onde se divertia com os primos.
Recordações e histórias
Mário Valente garante que todos os anos a mãe mandava limpar os terrenos à volta da casa e, este ano, não foi exceção. "Ontem [anteontem], fiquei de pernas quebradas quando soube. É uma tristeza. Ficam as recordações, as memórias e as histórias", comenta. Apesar de tudo, a casa tinha "um seguro qualquer", mas diz que não sabe "o que é que vale".
Na aldeia de Zambujais, Abiúl, Maria Tomás, 28 anos, ainda não estava refeita dos momentos de aflição porque passou com o namorado, com a cunhada e com o namorado dela, a tentar impedir que as chamas chegassem a casa dos sogros, emigrados em França. "Eu e a minha cunhada pegámos em enxadas para tentar proteger o quintal [encostado à habitação], mas, com o vento, as labaredas vieram para cima de nós e tivemos de fugir para dentro de casa", relata.
Cenário de terror
"Chegámos a estar literalmente cercadas com um fogo que vinha do Mogadouro, e outro de Vale Corneto, que pegou com o da estrada de Pombal", recorda Maria Tomás. O céu escuro e as labaredas por todo o lado criaram um cenário de "terror", pelo que fugiram para o concelho vizinho, de Ansião. "Sou uma pessoa muito calma e com sangue-frio, mas nunca tive tanto medo. Quando entrei para dentro do carro, desabei", confessa.
Maria e a cunhada Cátia conseguiram levar o cão, mas deixaram para trás a gata, que se tinha escondido dentro de casa, e que viriam a resgatar quando voltaram, à noite. "O meu namorado veio a "correr" do Algarve e quando chegou estava o barracão a arder, onde estavam os carros e as ferramentas", conta. Com a ajuda de um vizinho, conseguiram salvar todos os automóveis, à exceção dos dois mais "velhinhos", um dos quais só havia intenção de aproveitar peças.