INEM descarta abrir inquérito ao caso de bebé que morreu à espera de transferência
Uma criança de 11 meses morreu, ao final da tarde de sexta-feira, no Hospital de Portimão, após ter aguardado algumas horas para ser transferida para a unidade de Faro, onde iria receber os cuidados intensivos de que necessitava, por se encontrar com um derrame do pericárdio. A ambulância especializada em transportes pediátricos inter-hospitalares encontrava-se inoperacional, por falta de médico. O INEM alega que não houve falhas na atuação das suas equipas e, por isso, descarta a abertura de um inquérito sobre o caso.
Corpo do artigo
O INEM afirma ter recebido, às 14.18 horas, um pedido do Hospital de Portimão "para transporte de um bebé de 11 meses para uma unidade de cuidados intensivos pediátricos", nomeadamente, o hospital de Faro, que também integra o Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA). Em Faro, a urgência pediátrica encontrava-se encerrada (ver caixa), mas haveria clínicos intensivistas disponíveis para receberem o bebé.
Vários problemas
Os transportes de crianças entre hospitais, dada a sua especificidade, são feitos por uma equipa de transporte inter-hospitalar pediátrico (TIP), composta por um médico, um enfermeiro e um técnico de emergência pré-hospitalar. Anteontem, a de Faro encontrava-se inoperacional, confirmou o INEM, "por falta de médico do hospital".
A partir daí, começou uma busca para solucionar o problema. Primeiro, foi pedida a intervenção da TIP mais próxima, a de Lisboa, mas a mesma encontrava-se ocupada. Depois, terá sido equacionado o envio da TIP de Coimbra, mas, apurou o JN, a coordenação nacional das equipas entendeu que a mesma não chegaria ao Algarve a tempo. A solução passou pelo envio do helicóptero de Loulé, ainda que sem uma equipa especializada naquele tipo de transportes pediátricos. O acionamento do meio aéreo, esclareceu o INEM, "foi efetivado pouco depois das 15 horas".
investigação
"Existiam outras opções que não foram disponibilizadas. Porque é que não foi enviada a TIP de Coimbra, ou mesmo a do Porto, que de helicóptero chegaria rápido ao Algarve?", questionou Rui Lázaro, do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar. "O INEM também poderia ter chamado outro médico especialista em cuidados neonatais, que não estivesse de serviço. Desconhecemos porque é que isso não foi feito", adiantou o dirigente sindical, que defende "uma investigação".
Quando helicóptero chegou a Portimão, os médicos do hospital terão preparado a criança para o transporte. No entanto, quando o meio aéreo ia "iniciar o voo, o bebé sofreu um agravamento do seu estado clínico que impediu o transporte e obrigou a equipa a regressar, pelas 17.45 horas, ao Hospital de Portimão", esclareceu o INEM. O óbito "acabaria por ser verificado mais tarde".
"Não foi a equipa do helicóptero que estabilizou ou fez algo à criança. A mesma foi sempre acompanhada e orientada pela equipa do CHUA. Só iria ser transferida por necessitar de cuidados intensivos e os mesmos só existem em Faro", garantiu fonte hospitalar.
O INEM deixou claro que "a análise de toda a informação disponível sobre a ocorrência não indica que tenha existido qualquer falha nos procedimentos adotados por este Instituto" e que, por isso, não irá abrir um inquérito.
Urgência pediátrica fechada
A urgência pediátrica do Hospital de Faro esteve fechada desde as 9 horas de sexta-feira, até às 9 horas de hoje, por falta de médicos. Em resposta ao JN, através do Ministério da Saúde, fonte oficial do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) explicou: "Como temos apenas sete médicos pediatras no Algarve que fazem urgência, temos que gerir a resposta na região de forma articulada. Por isso, este fim de semana, para garantir o funcionamento da pediatria e do bloco de partos em Portimão, temos a urgência de Faro com serviço de urgência básico".
No entanto, de acordo com a mesma fonte, o encerramento da urgência de pediatria acabou por ser "irrelevante" no caso que levou à morte do bebé de 11 meses. "A criança foi para o serviço de urgência de Portimão por ser o mais próximo e teve sempre atendimento por pediatras, equipa de emergência interna e anestesista", garantiu o CHUA.
Paramédicos
A Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica considerou, ontem, por não dispor de médicos nem enfermeiros "em número suficiente", que "Portugal deve empenhar-se na criação dos paramédicos".
Constrangimentos
O Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar diz que já está "há mais de um ano a alertar para os constrangimentos no Algarve" e lamenta "que o ministro da Saúde não faça nada para resolver o problema".