Casal com sintomas foi ao Hospital de Braga, que lhe deu alta sem fazer testagem. Administração diz que testes na hora só para sintomas graves.
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Uma família de cinco pessoas de Covelas, Póvoa de Lanhoso, acusa o Hospital de Braga de "irresponsabilidade" por ter dado alta médica a dois deles com sintomas de covid-19 e que não fizeram o teste após terem estado duas vezes naquele estabelecimento. A administração diz que só os pacientes internados são testados no imediato.
O caso remonta ao dia 13. José e Maria Barbosa apresentavam sintomas de gripe há alguns dias e suspeitavam que pudesse ser covid-19. Ligaram para a linha Saúde 24, que os encaminhou para o Hospital de Braga.
"Tinha dificuldade em respirar, tosse e dor nos músculos. Febre não tinha, porque estava a tomar paracetamol", recorda José Barbosa. No hospital, o homem de 64 anos fez um exame aos pulmões, pois já tem histórico de doenças respiratórias, e a mulher fez outros exames, que nada revelaram. Tiveram alta, mas foram considerados suspeitos de covid-19, pois disseram-lhes que o teste "seria agendado durante a semana", conta José. O homem diz ter informado a médica que tinha dois filhos em casa e que ambos estavam a trabalhar. No entanto, assegura que não recebeu qualquer conselho para estes ficarem isolados e um deles foi mesmo trabalhar no dia seguinte, um domingo.
No privado
Menos de 24 horas após a alta, os sintomas de José agravaram-se e decidiu ir a um hospital privado, "já que o público nada fizera no que diz respeito ao despiste de covid-19", justifica. Ali, fizeram-lhe vários exames e o teste. Porém, como tinha sintomas de pneumonia, teria de receber oxigénio e ficar internado, o que só podia acontecer no Hospital de Braga ou numa unidade privada em Vila do Conde. Voltou ao público.
A médica que o atendeu desta vez mandou realizar novas análises ao sangue e, depois dos resultados, disse que podia voltar para casa, mantendo-se isolado, enquanto aguardava pelo teste à covid feito no privado. Assim aconteceu, mas o resultado veio no mesmo dia, à noite. Deu positivo.
A mulher de José e os dois filhos que com eles vivem também viriam a testar positivo nessa semana, mais um terceiro filho que mora fora e tinha ido passar a semana à Póvoa de Lanhoso. Agora, estão os cinco em casa, em Covelas, à espera que a doença passe. "Já estamos a melhorar, os sintomas estão mais ligeiros", revela José Barbosa.
Contactado pelo JN, o Conselho de Administração do Hospital de Braga explicou que nos casos suspeitos que estejam clinicamente estáveis, sem sinais de gravidade, "são dadas recomendações de isolamento" e o teste é feito, "por norma, ao segundo dia útil seguinte". Para serem testados no imediato, os doentes têm de apresentar "quadros clínicos graves e que necessitem, obrigatoriamente, de internamento", fundamenta.
A mesma fonte assegura que, da primeira vez que foi ao hospital, José não tinha sintomas graves e foi agendado o teste. Da segunda vez, já tinha feito teste no privado "por opção própria", pelo que foram cumpridas "escrupulosamente as normas definidas pelas autoridades".
67 casos positivos na Póvoa de Lanhoso
A família Barbosa fez testes positivos no dia 16, mas só oito dias depois foi acrescentada ao boletim diário da DGS.
Contactou pessoas
Das duas vezes que foi ao Hospital de Braga, José Barbosa passou por dezenas de pessoas. "Fiz o que me mandaram, eu não sabia", lamenta.
Veio de Fátima
Antes de começar a ter dificuldades respiratórias e tosse, José, eletricista, trabalhou em Fátima. O surto no coro do santuário já infetou pelo menos 33 pessoas.
Ponderam processo
Em casa há quase dez dias, a família pondera processar o Hospital de Braga por negligência.