Produtores vendem mirtilo a 3,5 euros/kg e este é comercializado nas lojas a 35.
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Produtores de Sever do Vouga vendem o mirtilo a 3,5 euros o quilo, mas o fruto chega ao consumidor a preços entre os 35 e os 40 euros. Associação local vai apostar em nova política de comercialização, anulando intermediários.
A aprovação de uma candidatura ao programa MODCOM (modernização do comércio) é a porta para o desenvolvimento de uma nova política de comercialização do mirtilo de Sever do Vouga. O objectivo é acabar com a discrepância que existe entre o preço de venda do produtor, que ronda os 3,5 euros o quilo, e o valor a que chega ao consumidor, que varia entre os 35 e os 40 euros para mesma quantidade. A Associação para a Gestão, Inovação e Modernização do Centro Urbano de Sever do Vouga (AGIM ), criada pela Câmara e pela SEMA- Associação Empresarial, quer ajudar os produtores a conseguirem mais lucro e a atingirem o mercado nacional que, neste momento, quase não tem expressão.
"O lucro não é dos produtores, acaba sempre por ficar nos intermediários. Queremos contrariar esta tendência, mas para isso é preciso mudar a rede de comercialização que temos neste momento", sublinha Sofia Freitas, coordenadora da AGIM. O objectivo é chegar ao mercado nacional que neste momento representa apenas 5% das vendas. Os restantes 95% destinam-se aos mercados holandeses e franceses.
"A nossa ideia é começar a distribuir, directamente, a lojas e restaurantes gourmet, hotéis, frutarias e mercearias", afirma Sofia. Com este projecto pretende-se ainda criar a marca "Mirtilo de Sever do Vouga" e apostar num mercado que valorize o produto.
Mas estes não são os únicos objectivos da AGIM e da Mirtilusa (cooperativa local de produtores de mirtilo). Foram já apresentadas 92 candidaturas a fundos comunitários que se irão reflectir num investimento superior a dois milhões de euros. Todavia, as candidaturas entregues em Janeiro continuam sem resposta. "Estamos há seis meses à espera de uma decisão sobre um investimento na componente agrícola de um concelho como Sever do Vouga", diz Sofia Freitas, que não poupa críticas ao Ministério da Agricultura.
Estes dois milhões de euros de investimento irão permitir um aumento significativo da produção. "Em dois ou três anos conseguiríamos aumentar a produção em 300 toneladas", explica a coordenadora da AGIM, acrescentando que, actualmente, os cerca de 80 produtores "conseguem uma média de 80 a 100 toneladas por ano".
Em pouco menos de 20 anos, a produção de mirtilo tornou-se na principal actividade agrícola de Sever do Vouga. O micro-clima (temperaturas frias no Inverno e quentes no Verão) ajuda ao desenvolvimento da produção. Na maioria dos casos, o mirtilo é um rendimento extra para as famílias permitindo, em muitos casos, uma receita de 750 euros mensais, ao longo de todo o ano.
Fernando Silva é produtor de mirtilo há 17 anos e está agora a fazer a apanha das bagas, que se prolonga até Agosto. "Este ano devo ter perto de três toneladas, mas há dois anos tive o dobro", conta. Diz que não dá para viver só da produção de mirtilo e por isso mesmo só contrata pessoal na época da colheita. "Tem de se apanhar baga a baga, dá muito trabalho", reconhece. A sua plantação, em Dornelas, é uma das muitas que integra a Rota dos Mirtilos, hoje apresentada, e que permite uma visita às explorações.