
Investigadoras alertaram para os impactos do uso excessivo de ecrãs em crianças e adolescentes
Foto: António Orlando
Os desafios que as famílias enfrentam na Era Digital foram o foco da mesa redonda "O Inimigo Silencioso: Quais os desafios familiares na Era Digital?", realizada no âmbito das Conversas de Igual para Igual do I Congresso Internacional de Intervenção Comunitária e Transformação Social, a decorrerem no Cine Teatro de Amarante.
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A sessão desta quinta-feira de manhã contou com a participação de Maria João Horta, especialista em Cidadania e Educação Digital, e Rute Santos, professora associada do Instituto de Educação da Universidade do Minho.
As duas investigadoras alertaram para os impactos do uso excessivo de ecrãs em crianças e adolescentes, sublinhando que este fenómeno representa um "inimigo silencioso" que afeta o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das novas gerações.
Riscos invisíveis e responsabilidade das famílias
Maria João Horta apresentou dados recentes do estudo internacional Health Behaviour in School-Aged Children (HBSC), que envolveu 280 mil jovens entre os 11 e os 15 anos, em 44 países. Segundo a especialista, 11% dos jovens apresentam uso problemático das redes sociais, com sintomas de abstinência e impacto negativo na vida escolar e familiar.
A investigadora destacou a necessidade de "trabalhar com as comunidades e com as famílias" para promover um uso equilibrado e consciente da tecnologia, sem ignorar as oportunidades que o digital oferece. "Não podemos rejeitar o mundo digital, mas temos de aprender a viver nele com responsabilidade", afirmou.
Horta apresentou ainda as recomendações da Direção-Geral da Educação para o bem-estar digital, que orientam escolas e famílias sobre como prevenir e atuar perante sinais de dependência tecnológica, sublinhando que "a literacia digital e a vigilância parental são essenciais para proteger as crianças".
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Impactos científicos do excesso de ecrãs
Por sua vez, Rute Santos apresentou uma análise científica sobre os efeitos neurobiológicos e comportamentais do tempo de ecrã em crianças e adolescentes. Citando várias revisões sistemáticas, a investigadora apontou ligações entre o uso prolongado de dispositivos e menor desenvolvimento cognitivo, risco de obesidade, sintomas depressivos e problemas de atenção.
Santos sublinhou ainda que as redes sociais, potenciadas por algoritmos de inteligência artificial, promovem dependência através da estimulação das vias cerebrais associadas à dopamina, comparável à provocada por substâncias aditivas. "Os algoritmos são desenhados para reter a nossa atenção e reforçar o comportamento de dependência", alertou.
A docente da Universidade do Minho defendeu uma utilização cautelosa da tecnologia em contexto escolar, apenas como complemento pedagógico, e elogiou as medidas que limitam o uso de telemóveis nas escolas portuguesas. "Precisamos de equilibrar o uso da tecnologia com o sono, a atividade física e o contacto humano", concluiu.
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Inimigo silencioso, um desafio coletivo
As duas especialistas convergiram na ideia de que a resposta ao "inimigo silencioso" deve envolver famílias, escolas e comunidade. O equilíbrio entre competências digitais e bem-estar emocional surge como a prioridade central. "Este é um desígnio de todos", afirmou Maria João Horta, defendendo que a cidadania digital é hoje um pilar essencial da educação e da saúde pública.
A vereadora da Coesão Social da Câmara Municipal de Amarante, Eugénia Teixeira, afirmou que o I Congresso Internacional marca o início de uma nova etapa na promoção de "uma Amarante mais justa, inclusiva e solidária", através do "trabalho em rede e da escuta ativa das famílias".
Depois de sublinhar a importância de aproximar as pessoas e tornar a comunicação mais eficaz, Eugénia Teixeira defendeu que a transformação social depende da capacidade de ouvir, compreender e agir com rapidez sobre as necessidades das famílias, conciliando "a era digital com a dimensão humana das relações comunitárias", disse.
O congresso, que decorre em Amarante, reúne investigadores e profissionais de várias áreas com o objetivo de refletir sobre o papel das comunidades na transformação social, uma iniciativa integrada na Campanha Amarante de Igual para Igual, promovida pelo Município de Amarante em parceria com a Universidade Portucalense UPT e com o apoio científico do CINTESIS.UPT/RISE Health.
