Há cada vez menos mão de obra para apanhar tanta castanha no Nordeste Transmontano, ainda que este fruto seco seja considerado o petróleo da região.
Corpo do artigo
O despovoamento e o envelhecimento nas aldeias obrigam os produtores de Bragança e Vinhais a contratar os que restam, muitas vezes idosos, ou a recorrer a estrangeiros, principalmente famílias de imigrantes da Europa de Leste.
Sérgio Rodrigues, um produtor de Vinhais, chegou até a pôr um anúncio na rede social Facebook, em busca de eventuais interessados no trabalho, mas estes não apareceram. E o pagamento não é dos piores, no quadro destas tarefas agrícolas, pagando-se, por dia, 50 euros por oito horas de trabalho. "Nos anos anteriores havia sempre quatro senhoras aqui da zona que vinham para a nossa apanha, mas dessas, este ano, já só consegui uma, que tem 64 anos. A outra pessoa que veio, pois não tive outra alternativa, é uma familiar, que já completou 73 anos", explica Sérgio, um funcionário público que mete férias nesta altura do ano, justamente por causa da campanha da castanha.
Nos soutos de que é proprietário, na localidade de Salgueiros, colhe uma média anual de 20 toneladas. "De ano para ano, a falta de mão de obra aumenta. Uma das pessoas que costumavam vir cuida agora de idosos. Não vai deixar um trabalho certo, que tem durante todo o ano, por uma atividade sazonal que dura um mês. É mesmo bastante difícil arranjar pessoal para a apanha. Pode tornar-se um problema muito grave", observa o produtor, notando que nas aldeias praticamente não há gente em idade ativa. "A maquinaria terá de ser uma solução, num futuro muito próximo. Eu já tenho uma máquina, mas esta também exige duas pessoas para trabalhar", esclarece.
Idosos e imigrantes
José Barreira, 74 anos, outro produtor de Salgueiros, anda há duas semanas pelos soutos com a mulher. Conseguiu arranjar uma senhora para ir à jeira, o que "já não foi mau". "É complicado contratar trabalhadores. Aqui na aldeia não há ninguém, muito menos jovens. Nem sei como será o futuro. Nós (ele e a mulher) cada vez podemos menos e sabemos que, um destes anos, não poderemos vir. Eu gosto de trazer à jeira duas ou três pessoas. E arranjá-las?", conta o idoso.
Ainda em Vinhais, mas na aldeia de Penso, o cenário não anda melhor. Adelaide Borges, contou que as oito toneladas de castanha que habitualmente produz só não ficam no campo graças à sua tenacidade, embora já conte 80 anos, e ainda ao empenho do filho. "Também contratamos pessoal, quando o há, só que é muito difícil encontrar alguém para trabalhar. Temos que ser nós a fazer um esforço maior. Andamos de rastos, velhos e mancos para a castanha não ficar no campo. Já vendi dois mil quilos, mas sabe Deus o sacrifício para a conseguir ter em casa", explica a agricultora.
Por Bragança, mais precisamente no Parâmio, Manuel João Capelas traz nos soutos uma família de imigrantes búlgaros. "Nos últimos anos tenho recorrido a este tipo de mão de obra. São jovens, e estou satisfeito", garante. Este agricultor tem o que já se considera uma produção muito razoável, a passar as 20 toneladas. A castanha gera rendimento e não pode ficar na terra muitos dias, até "porque a castanha tem uma manha, é de quem a apanha", diz, aludindo aos furtos que acontecem todos os anos.