José Manuel Ribeiro: "O volume poupado em perdas de água equivale a cinco anos de consumo"
Entrevista a José Manuel Ribeiro, presidente da Câmara Municipal de Valongo.
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O concelho de Valongo dispõe de 99% de acessibilidade ao serviço de água. O presidente do Município, José Manuel Ribeiro, diz que é “água de qualidade reconhecida anualmente pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR)”. São distribuídos continuamente “mais de 4,5 milhões de metros cúbicos de água segura por ano”, obedecendo a “um padrão elevado”.
Quanto foi necessário investir para ter essa garantia?
Com a concessão dos serviços públicos de abastecimento de água e de recolha, drenagem e tratamento de águas residuais, foram investidos cerca de 57 milhões de euros pela concessionária. Nomeadamente, na construção de novas infraestruturas e na substituição de redes existentes com vista a assegurar o aumento da cobertura do serviço público de águas residuais e da eficiência do sistema público de abastecimento de água. As novas infraestruturas serão essenciais para a expansão urbanística do concelho e renovação de condutas por antiguidade e desgaste.
Qual a percentagem de perdas de água?
As perdas reais de água são cerca de 9,5% e a percentagem global de água não faturada face à quantidade distribuída é de cerca de 11%. Isto significa que o concelho de Valongo está acima da média nacional no desempenho da eficiência hídrica (a média nacional está acima dos 25%).
Como se chegou até aqui?
Ao longo dos 24 anos da concessão do serviço público de abastecimento tem havido uma melhoria contínua e consistente da percentagem de água não faturada. Passou de 30% em 2000 para 11% em 2024. O volume poupado em perdas de água ao longo destes anos equivale a quase cinco anos de consumo dos 45 mil utilizadores existentes no concelho de Valongo.
A poupança resultou de uma melhor gestão?
Sim. Com a aposta na gestão e atualização permanente do cadastro das infraestruturas, a manutenção da rede de dados para monitorização das infraestruturas públicas, nomeadamente as zonas de medição e controlo. Também apostamos na pesquisa ativa de fugas, controlo à distância, gestão de alarmes, monitorização das zonas de medição e controlo dos volumes distribuídos, além de possuirmos equipas especializadas e autónomas que gerem e atuam no terreno com capacidade de resposta rápida.
O uso da inteligência artificial poderá ser útil?
Sem dúvida que pode ser extremamente útil. Provavelmente, será o próximo grande passo de desenvolvimento, à semelhança do que foram, por exemplo, no passado, os sistemas remotos de controlo, supervisão e monitorização de dados. Esta ferramenta poderá vir a ter relevância, não tanto na deteção e localização de fugas, mas mais numa vertente preditiva de desempenho futuro das infraestruturas em todas as vertentes: qualidade, contaminação, fugas, etc.
Tem valido a pena integrar a Águas do Douro e Paiva?
Sim, obviamente. Seria muito difícil ou mesmo impossível produzir, autonomamente, o recurso água na quantidade, qualidade e continuidade que satisfizesse as necessidades do município.
Que desafios há pela frente?
Relativamente ao abastecimento de água, e especificamente na zona geográfica abrangida pela Águas do Douro e Paiva, vemos dois desafios ao nível municipal e intermunicipal. Por um lado, continuar a implementar medidas concretas que promovam a eficiência na produção, transporte e distribuição da água até à torneira do utilizador. Por outro, a implementação das regulamentações ambientais em evolução e tecnologia, em equilíbrio com a capacidade económica dos utilizadores de um bem público essencial.
Um longo caminho a percorrer?
No país existem mais de 600 mil casas com serviço público de água disponível, mas que não se encontram ligadas às redes públicas de água, o que mostra o longo caminho ainda a percorrer, pois os investimentos em infraestruturas já foram concretizados.
Qual é a solução?
Uma saída para esta ineficiência ainda existente seria avaliar a possibilidade de os fundos comunitários comparticiparem nas adaptações das instalações prediais dos imóveis existentes, ou seja, em toda a cadeia de valor do ciclo da água, tal como se fez no gás natural.v