Projeto-piloto auxilia quem não quer deixar a sua casa e ainda desfruta de autonomia.
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Maria José Santos, de 24 anos, é a primeira cuidadora comunitária do país. Tem a seu cargo 11 idosos, que vivem sozinhos, na aldeia de Vila da Ponte, no concelho de Sernancelhe, e são visitados quase todos os dias desde meados de fevereiro, no âmbito de um projeto-piloto lançado pela associação Aldeias Humanitar.
A jovem ajuda os mais velhos no que for necessário no dia a dia. Auxilia-os na higiene, a vestirem-se e a despirem-se, nas idas ao Centro de Saúde ou farmácia, vigia a toma da medicação. Até vai dar uma "voltinha" com eles a pé. É assim que, ao mesmo tempo, combate a solidão a que estão votados.
"Ela é muito boa menina, faz-me companhia, conversa muito comigo. Está sempre a perguntar-me se é preciso fazer alguma coisa, mas eu graças a Deus que devagarinho ainda vou fazendo as minhas coisinhas, faço o comer, dou um jeitinho à casa", explica Maria Augusta. Com 90 anos, a idosa garante que "quando não puder" vai socorrer-se desta ajudante.
Viúva há cinco anos, Maria Augusta passa os dias na companhia do gato Tareco e a ver televisão. Nem quer ouvir falar em lares. Prefere manter-se no seu "cantinho" até, como diz, ser chamada para junto do seu marido no céu. "Quero ficar na minha casinha, não gosto nada de hospitais e de lares. Entro lá e fico logo sem vontade de comer", atira.
Alegria, amor e saúde
Com a ajuda da cuidadora comunitária pode ficar mais tempo em casa. Nas visitas que faz, Maria José Santos utiliza equipamentos de proteção individual, como máscara e luvas, para garantir a segurança dos mais velhos. A jovem, natural de Ferreirim, uma aldeia vizinha, não esconde a satisfação por estar a apoiar quem está agora sozinho.
"Tem sido maravilhoso ajudar as pessoas. Como estão isoladas vou trazendo alegria, amor, um bocadinho de saúde, vou tirando um bocadinho a solidão delas", refere, garantindo que é sempre recebida "com um sorriso".
Em média, cada idoso é visitado três a quatro vezes por semana durante uma hora. O serviço, inédito da associação de solidariedade Aldeias Humanitar, é totalmente gratuito.
Objetivo é criar condições para alargar o projeto
Vila da Ponte tem cerca de 400 habitantes e 15 seniores a viverem sozinhos, dos quais apenas quatro não estão no projeto, mas a ideia é que todos tenham esta retaguarda. "Isto é fantástico e inovador, o Estado Central devia copiar a ideia e replicá-la ao país todo", defende Filipe Pinheiro, presidente da Junta de Vila da Ponte. O projeto-piloto vai durar um ano. Depois, será realizada uma avaliação para decidir se tem pernas para andar e crescer para os restantes concelhos da região do Douro Sul. "Temos de fazer uma avaliação e ver como é que podemos crescer para ajudar as pessoas", remata Joana Silva, diretora técnica do Aldeias Humanitar.