Fernanda Leiras tem um filho com espectro do autismo e é uma das 25 pessoas beneficiadas pelo programa Pausas Breves lançado pela Câmara do Porto e pela Associação Cuidadores.
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São já 25 os cuidadores beneficiados pelo programa Pausas Breves, lançado em novembro pela Câmara do Porto em conjunto com a Associação Cuidadores. Quem cuida é visitado quinzenalmente por dois voluntários que, durante duas horas, prestam apoio e vigilância à pessoa cuidada, podendo o familiar sair para fazer compras, ir ao cabeleireiro ou tomar um simples café. O programa, nesta primeira fase, será mantido até abril, mas a Autarquia diz que a avaliação feita é "muito positiva", existindo "condições para ter continuidade".
Fernanda Leiras tem 53 anos e vive num apartamento do centro do Porto com o filho, diagnosticado desde os três anos e meio com espectro do autismo. "É um autismo de grande funcionalidade, mas mesmo assim requer acompanhamento constante e absorve-me todo o meu tempo", explica, enquanto espera pelo dois voluntários enviados pela associação. "Devia ser todas as semanas, mas já é bom ser quinzenalmente. Dá para eu sair um pouco e respirar, desopilar, ver pessoas. Às vezes sinto-me como um tolo no meio da ponte", acrescenta Fernanda.
Pouco depois André Évora e Telmo Costa tocam à campainha. Com 21 e 22 anos são alunos de mestrado na área do ensino de educação física. No quarto, Miguel, com 24 anos, espera ansioso pelos "amigos", os únicos que tem. "Gosto muito deles porque vão passear comigo", explica. Os três jovens saem de casa. "O Miguel frequentou, desde os 18 anos e até à pandemia, a APPACDM (Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental) do Porto, mas foi a partir de setembro, quando ficou em casa, que evoluiu mais", diz Fernanda, que deixou de trabalhar como vendedora de automóveis para cuidar do filho.
Apoio emocional
Durante duas horas a cuidadora leva o pai a uma consulta no Hospital de S. João e vai até à esplanada do Jardim do Covelo. "Precisava de voltar ao mercado de trabalho, mas será difícil". Muitas vezes, Fernanda aproveita para descansar sozinha em casa. "As sessões de apoio emocional complementam o serviço, com uma sessão mensal por cuidador. São realizadas por psicólogos, no domicílio do cuidador ou cuidadora informal, ou ainda nos Centros de Apoio ao Cuidador da Associação Cuidadores", explica Cristina Pimentel, vereadora da Ação Social.
O "Pausas Breves" foi importante para Miguel sair de casa, pois "andar na rua era coisa que ele detestava". Regressa na companhia dos amigos com mais uma minifigura para a coleção de centenas que tem no quarto. Miguel quer estudar dobragem na Delart, no Rio de Janeiro, e está à espera de convites de estúdios portugueses. Fala fluentemente inglês, francês espanhol, alemão e romeno.