No Porto, em Gaia e em Matosinhos pedidos de ajuda disparam. Gente que perdeu emprego, nos restaurantes, advogados e professores entre quem recebe apoio.
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Os pedidos de ajuda às juntas de freguesia estão a bater recordes por causa da pandemia. Nas freguesias centrais do Porto e de Vila Nova de Gaia não há mãos a medir para responder às solicitações. Em Matosinhos, São Mamede de Infesta/Senhora da Hora é parceira da Câmara num programa iniciado em março, precisamente para apoiar casos de covid-19 e de carência económica.
O auxílio está a atingir uma escala nunca vista: no Centro Histórico do Porto, foi criado um Banco Solidário para apoiar mais de 500 famílias; em Mafamude/Vilar do Paraíso, Gaia, foi necessário aumentar o número de cabazes de Natal para 700. A autarquia gaiense já tinha antecipado as necessidades ao reforçar o fundo de Emergência Social. Em São Mamede de Infesta/Senhora da Hora, há uma rede de instituições posicionadas na primeira linha para atenuar os problemas e que incluem as Conferências Vicentinas.
Sem o turismo que alimentava a hotelaria e a restauração, a crise bate forte na Baixa portuense. À União de Freguesias do Centro Histórico nunca chegaram tantos pedidos. Teme-se que a situação se agrave no início de 2021, após a quadra natalícia.
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Situação nova
"Na entrega de cabazes, todos os meses ajudamos mais de 1000 pessoas. Este mês, a conta já vai nos 540 cabazes. Pela dimensão, é uma situação nova para a Junta de Freguesia. Seria um trabalho para as IPSS", diz Iolanda Silva, membro do Executivo e responsável pela criação do Banco Solidário, onde o amparo se traduz de diversas formas, desde bens alimentares a produtos de higiene, passando por vestuário e calçado.
Na atividade dos hotéis e dos restaurantes, a pandemia está a provocar uma razia. "Muita gente que trabalhava nesse setor tinha vínculos precários. Estavam a recibos verdes. Há quem tivesse ficado a zero", diz, referindo-se aos estrangeiros que imigraram para a Invicta. "Cerca de 30% são brasileiros. Nem dinheiro têm para voltar ao seu país. O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras atrasou tudo. Ficaram sem retaguarda", adianta, havendo mais comunidades atingidas, como as oriundas da Venezuela e de Marrocos.
A primeira vaga afundou a economia. No verão, os negócios reanimaram. Mas, passado o tempo quente, o panorama voltou a piorar. O desemprego disparou e tornaram a bater à porta da União de Freguesias. "Não só imigrantes, mas também a classe média, que perdeu rendimento. Advogados, nomeados pelo Estado para defesas oficiosas, professores e até um sócio-gerente de uma agência de viagens. As pessoas estão aflitas e chegam aqui a chorar", conta Iolanda Silva, no centro logístico do Banco Solidário, na Rua João das Regras.
"Não há trabalho"
Maria de Lurdes faz parte da equipa que entrega cabazes. Não é uma novata, já o faz há vários anos. "Há alturas em que choramos nós e quem recebe. Sei bem como é, pois também já precisei. Além disso, tenho um filho que trabalhava num hotel e ficou sem emprego", comenta, para ilustrar a alegria de dar, mas igualmente a dor de partilhar as agruras de outros.
Clementina, de 68 anos, está entre as que comparecem do outro lado do balcão. Frequentou a Faculdade, foi funcionária de escritório durante largos anos, mas a dada altura perdeu esse estatuto e ocupação. Até ao surto de covid-19 trabalhou na área do turismo. "Fazia limpezas em nove hostels. Agora está tudo fechado e não há trabalho. A reforma é pequena e as despesas são muitas", lamenta.
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Tal como noutros pontos do país, no Centro Histórico do Porto a União de Freguesias apoia nas contas da luz, no pagamento de rendas e de medicamentos. Também faz entregas ao domicílio. Para Dina Vilhena, de 82 anos, e Georgete, de 90, quando as técnicas tocam à campainha das suas casas, o conforto tem tanto de material como de psicológico.
Georgete não sai de casa há meses. Tem recebido artigos de higiene e comida. Diz estar "eternamente grata" a quem presta o serviço e o sorriso na face dispensa mais palavras quando colocam nas mãos do filho, com quem habita, o cabaz de Natal, com o tão esperado bacalhau. "Obrigado", repete, satisfeita pela visita, a quebrar a monotonia do confinamento obrigatório.
Rede solidária
Rotary e Lions são duas das organizações da rede solidária em Matosinhos e parceiras das juntas e da Câmara Municipal. Também as Conferências Vicentinas e a Refood colaboram.
100 mil euros em Gaia na Emergência Social
A Câmara de Gaia reforçou o programa de Emergência Social com 100 mil euros. Mas o pacote para fazer face à covid é de 1,5 milhões.
Oferta de 600 sapatos
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Um comerciante nascido na Sé, no Porto, ofereceu ao Banco Solidário 300 pares de sapatos. Tinha uma sapataria em Vieira de Leiria, que fechou, mas antes de encerrar fez questão de doar o stock aos moradores da terra onde nasceu.
Colégios dão roupa
O vestuário também é uma necessidade. Para suprir esta carência, o polo logístico do Centro Histórico conta com peças de roupa dadas pelos alunos dos colégios da freguesia.
Também há brinquedos
Os brinquedos são outros dos artigos nas prateleiras. É uma prenda para os mais novos.
Massas, atum e salsichas
O espírito de entreajuda tem feito chegar à Rua João das Regras bolachas, arroz, leite, massas, salsichas, óleo, azeite, atum, feijão e farinha. Sobretudo bens não perecíveis. Mas também há uma arca frigorífica com legumes e outros frescos.
Exposição no La Vie
Quem quiser colaborar com o Banco Solidário pode passar no shopping La Vie, no Porto, onde está patente uma exposição, cujo objetivo é a recolha de donativos, em géneros.