Câmara do Porto cede edifício. Cidade torna-se numa das que resistem por uma nova vanguarda de velhos formatos.
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Nas mesmas calçadas graníticas onde Manoel de Oliveira filmou Aniki Bobó e a rivalidade de Carlitos e Eduardinho pela afeição de Teresinha, ergue-se, no Centro Histórico do Porto, a torre medieval que há de albergar o chamado laboratório de cinema analógico.
O projeto está em marcha e junta a Invicta a outras cinco cidades europeias numa rede de cooperativas resistentes, em nome do estatuto das velhas películas. Eis, então, esta contrarrevolução internacional e tripeira, num mundo que se julgava todo-digital e que, afinal, tem uma nova vanguarda, ao ponto de a própria indústria do audiovisual retomar os velhos formatos Super-8, 16 mm e 35 mm.
Ali a uma pedrada do Douro, entre a Rua de Baixo e a Viela do Buraco, no coração da Ribeira, um edifício milenar de cinco pisos foi cedido pela Câmara Municipal do Porto à cooperativa LAIA, a quem caberá instalar o chamado Laboratório de Cinema da Torre. O projeto, que terá o apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual, integra-se, desde 2020, no designado LABs Partnership, uma rede europeia que envolve outros cinco parceiros, instalados em Berlim (Alemanha), Miré (França), Roterdão (Holanda), Poblenou (Catalunha) e Vilnius (Lituânia).
Projeto singular
Sem prejuízo das tecnologias do vídeo e da fotografia digital, todos estes laboratórios têm a mesma motivação condutora: "preservação, produção e realização de filmes por meios analógicos, mostras de cinema e formações, residências artísticas e prestação de serviços no apoio a produções complementares", anuncia a LAIA - Cooperativa Cultural, fundada recentemente por artistas da cidade.
"É um laboratório bastante singular no nosso contexto, para produção e revelação de cinema em formatos analógicos. Há mais em Portugal, mas o que este tem em particular é que será gerido por artistas e realizadores que se dedicam à produção de cinema independente e de cinema de artista", observa Guilherme Blanc, diretor do Batalha Centro de Cinema.
Cidade do cinema
Precisamente, a instalação do Laboratório de Cinema da Torre constituirá mais uma razão para o Porto se posicionar enquanto "Cidade do Cinema", a par da abertura ao público do Batalha Centro de Cinema, lá para o verão de 2022, e da plataforma Filmaporto Film Commission, outra sociedade municipal, que tem vindo a atrair e facilitar filmagens na cidade, além de atribuir bolsas de produção.
"A participação da Câmara resume-se à logística. A LAIA terá total autonomia, possibilitando um diálogo pontual, do ponto de vista programático. O projeto será uma ponte interessante para o Batalha, que vai estar preparado para a exibição de produções em formatos analógicos".
Câmara estimula cidade do cinema com bolsas
A Câmara do Porto aprovou recentemente a atribuição de cinco bolsas de 20 mil euros no âmbito do programa de apoio à produção em cinema da Filmaporto. Entre 53 candidaturas a concurso, o júri selecionou os projetos "Quase me lembro", de Dimitri Mihajlovic e Miguel Lima, "O Pátio do Carrasco", de André Gil Mata, "A Hora da Estrela", de Rita Barbosa, "O Pão", de Lúcia Prancha, e "Grito", de Luís Costa. O programa pretende criar cinema produzido na cidade, estimular a empregabilidade e contratação de técnicos e empresas ligadas do setor no Porto.