Napoleão Rodrigues, 69 anos de vida, pesca lampreia do rio Minho há 40. Queixa-se de escassez neste início de época. O "Jornal de Notícias" apanhou-o a sair para a faina em Vila Nova de Cerveira, na sua embarcação "Nossa Senhora de Lurdes".
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Levava a esperança de não regressar de mãos vazias. "Já só peço uma para desenrascar um cliente no fim de semana", disse, referindo: "Fui várias vezes ao rio, mas isto aqui não dá nada. É uma lampreia de cada vez ou nenhuma. Ainda só apanhei cinco ou seis desde o início da época".
Na zona mais próxima da foz do rio Minho, entre Seixas e Caminha, labora a maioria das embarcações e ali fala-se em fartura. "Os primeiros sinais que temos tido neste mês, desde que começou a safra, denotam que há mais lampreia do que na mesma altura do ano passado", disse o comandante da Capitania do porto de Caminha, Pedro Cervaens, considerando que "a quantidade de água doce que este ano o rio apresenta poderá ter chamado a lampreia mais cedo ao rio". "Estes primeiros dias podem indicar que a safra pode ser boa, mas para já são apenas indicadores", ressalva.
Por pescar a mais de uma dezena de quilómetros a montante da zona fértil (em Caminha, os pescadores apanham o ciclóstomo a entrar no rio vinda do mar), Napoleão Rodrigues é mais cauteloso nas previsões. "Há quem diga que por vir a chuva, por vir uma cheia que é bom. Isso facilita a vida ao pescador, porque limpa o rio, mas para a lampreia entrar é preciso que a haja no mar. Há dois anos não houve cheia e foi um ano grande de lampreias", argumenta, adiantando: "No ano passado foi mais fraco. Se este ano for como no ano passado, já não é muito mau". Em 2019, Napoleão capturou "uma terça parte" das lampreias que tirou do rio na época anterior.
Reformado, trabalhou toda a vida na construção civil e sempre foi buscar rendimento extra ao rio Minho, com a lampreia. Ainda se recorda de a vender "a mil escudos" cada uma.
Em "três ou quatro meses de pesca", amealha tudo o que pode. Recusa o negócio com intermediários que "compram uma lampreia a 30 euros e vendem a 45". "Vendo para quem calha, mas só para particulares. O meu forte são os espanhóis e um restaurante aqui da zona", adianta, comentando que, nesta altura, vende os exemplares com menos de 1,2 quilos a "20 euros" e as grandes, a partir desse peso, a "35 euros".