Vistoria confirma falhas na instituição de Leça do Balio, que tem um enfermeiro para 205 utentes. Há 327 mortes em residências para idosos, a maioria no Norte.
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O vereador da Proteção Civil da Câmara de Matosinhos, José Pedro Rodrigues, não tem dúvidas: o Lar do Comércio, em Leça do Balio, é a instituição do concelho que tem "a situação mais grave" da Covid-19. A conclusão surge após vistoria, decorrida ontem ao longo de mais de sete horas. Em Portugal, há 327 mortes pelo novo coronavírus em lares. Em Ovar, testes aos idosos da Misericórdia foram interrompidos.
A evolução rápida de infetados no Lar do Comércio levou a Câmara de Matosinhos, a Delegação de Saúde e a Segurança Social a regressarem à instituição, depois de uma visita no dia 7. O vereador de Matosinhos diz que há falhas nos procedimentos "que precisam rapidamente de ser colmatadas". José Pedro Rodrigues avisa que "esse esforço tem de ser feito por parte da instituição sob pena de acontecer um contágio rápido".
Um dos problemas é a "falta de funcionários" e o vereador mostrou-se disponível para "acelerar o processo de triagem de trabalhadores existentes na bolsa de emprego".
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Fonte da instituição confirmou que "a situação continua a agudizar-se com o aumento de casos positivos e com a falta, sobretudo, de enfermeiros". O lar tem apenas um para os 205 utentes. Regista seis mortes por Covid-19 - na madrugada de ontem morreu uma mulher de 90 anos -, 21 utentes e sete funcionários infetados.
Depois de, na terça-feira, a familiar de uma utente ter agredido um segurança e invadido as instalações, exigindo a retirada da idosa do lar, a instituição diz que foi contactada para receber novamente a utente, que teve alta e que a família recusa acolher.
Balanço
Em todo o país, das 820 mortes por Covid-19 até ontem, 327 aconteceram em lares de idosos. Quase todas nas regiões Norte e Centro. Os números foram avançados pela diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, que garantiu que os lares são fonte de preocupação "porque têm uma concentração de população muito idosa e doente".
Segundo o diretor da Organização Mundial de Saúde, quase metade das mortes por Covid-19 na Europa foram idosos que estavam em lares. Hans Kluge defende que tem de haver "mudanças imediatas" e que os lares têm de ter "prioridade" nos testes. Alerta que deve haver condições para transferir os idosos para um hospital e só regressarem depois do teste negativo.
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É esse o apelo que o Lar da Misericórida de Ovar, que já conta 12 mortes, tem feito. "O hospital manda doentes de volta para o lar, não somos um hospital", diz Álvaro Silva. Ali, há 39 idosos - 14 estão hospitalizados - e 15 funcionários infetados. O provedor culpa a demora dos resultados dos primeiros testes, que chegaram cinco e seis dias depois e atrasaram a separação dos utentes.
Esta semana, começou uma nova ronda de testes a 60 utentes que deram negativo da primeira vez. "Porque têm sintomas. Os testes começaram na terça e foram interrompidos, não sei porquê. Mais uma vez, teremos resultados a conta-gotas". Os utentes doentes só têm o apoio dos enfermeiros e o provedor não percebe por que não são internados no hospital Anjo D"Ovar. A estrutura, extensão do hospital de Ovar, explica que o internamento segue critérios clínicos e que a referenciação é feita por serviços de urgência ou do centro de saúde.
Cortegaça e Maceda sem casos
Os lares de Cortegaça e Maceda, em Ovar, não registaram, até hoje, qualquer infeção por Covid--19. As medidas de prevenção tomadas cedo e a "sorte" estarão na origem da ausência de casos. "É preciso muito trabalho e muita sorte", diz o diretor do Centro Social e Paroquial de Maceda, Álvaro Pinto. Os testes aos 57 idosos deram todos negativo. E todos os utentes e funcionários usam máscara. Já no Centro Social Cortegacense, todos os dias é fornecido aos colaboradores equipamento de proteção individual, o vestuário é mudado e lavado na instituição.