O Lar do Comércio, em Leça do Balio, Matosinhos, não está a fazer a separação, por quarto, de utentes com e sem sintomas suspeitos de Covid-19. Nem tão pouco, na sala de convívio, estão a ser respeitadas as medidas de separação entre utentes. Quem o diz é o delegado de saúde de Matosinhos, após uma vistoria ao local. A direção da instituição continua a afirmar que "cumpre, desde a primeira hora, as indicações da Direção Geral de Saúde".
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O delegado de saúde de Matosinhos, Jaime Baptista, confirmou ao JN que foi feita uma vistoria ao Lar do comércio, no passado dia 7 de abril, tendo sido, posteriormente, enviado um relatório à instituição com as "insuficiências identificadas".
Jaime Baptista referiu, ainda, ao JN que no passado dia 16, quando lhe foi remetida uma lista de utentes do lar com sintomas suspeitos e que foram testados para pesquisa da Covid-19, foi perguntado "novamente se estes utentes estariam separados dos demais, tendo a direção afirmando veementemente que estavam".
Só que no sábado passado (dia 18), na sequência de mais testes efetuados no lar, a enfermeira do centro de saúde "não observou a separação por quarto de utentes com e sem sintomas suspeitos", fez saber Jaime Baptista.
"Foi-nos referido pela direção que esta estrutura residencial para pessoas idosas está com cerca de metade da lotação tendo sido constatado por nós que a estrutura física possibilita a adequada separação de utentes sintomáticos e/ou positivos", acrescentou o mesmo responsável.
Sem proteção correta
Mais, na sala de convívio também "não foram observadas medidas de separação entre utentes sintomáticos e não sintomáticos, quando os primeiros deviam ser segregados". A enfermeira, que fez as colheitas, afirmou também "que os equipamentos de proteção individual não estavam a ser utilizados corretamente, não havendo mudança de luvas pelos profissionais de utente para utente.
Daí que o delegado de saúde não tenha dúvidas que foram encontradas "falhas graves" no Lar do Comércio.
Também a Administração Regional de Saúde do Norte confirmou ao JN que "à altura da vistoria verificou-se insuficiência e inadequação de alguns procedimentos e práticas relativamente ao controlo de infeção, tendo, em consequência, sido recomendadas propostas corretivas".
Num comunicado, a direção do Lar do Comércio repudia as notícias veiculadas, uma vez que "são falsas e difamatórias do bom nome desta instituição centenária". E salvaguarda que "todos os idosos se encontram em isolamento nos seus quartos, sendo as refeições e todos os cuidados aí prestados".
Ainda assim, é assumido pela direção que estão a trabalhar "com recursos humanos escassos", uma vez que contam com "mais de 60 baixas de colaboradores".
Aliás, o JN sabe que, nesta terça-feira, o lar pediu auxílio à Câmara de Matosinhos nesse sentido.
Já sobre a escassez de material de proteção, a direção do Lar do Comércio confirmou que "máscaras, luvas, fatos e outros descartáveis não existem em quantidades elevadas", sendo mais notória "a escassez de batas descartáveis".
Autarquia entregou máscaras e viseiras
Contactada pelo JN, fonte da Câmara de Matosinhos referiu que "apesar de nunca ter sido solicitado, a autarquia entregou no Lar do Comércio 500 máscaras cirúrgicas, 100 máscaras FFP2, 40 viseiras e cinco litros de álcool gel". Foram ainda disponibilizados "serviços de limpeza para as suas viaturas, e líquidos desinfetantes para superfícies interiores e exteriores e líquidos para higiene pessoal".
A mesma fonte salvaguarda que o material "foi deixado à direção, à porta da instituição, uma vez que, por razão de segurança, não entramos das instalações", desconhecendo, por isso, "a finalidade dada ao material".
Perante as "falhas graves" apontadas pelo delegado de saúde à instituição, e a hipótese dos utentes serem transferidos para alguma unidade de alojamento, fonte da autarquia sublinhou que "essa é uma decisão da autoridade de saúde, que a Câmara respeitará".
"A autarquia dispõe de um espaço de retaguarda adaptado a estas situações, mas sabemos que a opção da autoridade de saúde tem sido a segregação dentro das instalações das instituições", concluiu.