Três meses depois de terem sido notificados para sair, comerciantes continuam a dormir no shopping do Bonfim, em Setúbal.
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Os lojistas do Centro Comercial do Bonfim, em Setúbal, estão desde o início do ano a pernoitar no espaço até que haja decisão judicial sobre a forma "desumana" como foram notificados para sair. Volvidos três meses, os comerciantes dizem-se "cansados da incerteza", mas não arredam pé até decisão do tribunal. Sandra Valente, no centro de cópias Bonfim, afirma que os lojistas estão "firmes e unidos". "Sabemos que os tribunais demoram sempre tempo, mas temos que lutar pelos nossos direitos", frisa.
Os lojistas foram notificados no início de dezembro para desocuparem as lojas no espaço de um mês, mas não o fizeram. A Célebres Assuntos, empresa gestora do espaço, alegou que os proprietários do centro comercial cessaram o contrato de arrendamento e, por isso, não podia renovar os de subarrendamento.
Inconformados, os comerciantes interpuseram no tribunal uma providência cautelar contra o fecho e não entregaram as chaves. Alegam que a empresa arrendatária pertence aos proprietários do espaço e que os seus contratos são válidos até 2024, razão pela qual têm direito a indemnizações e um maior período de tempo para sair
Todas as noites, revezam-se em dois turnos dentro do espaço: o primeiro entre as 19 horas e a meia-noite e o segundo até abertura no dia seguinte. António Gorrão, comerciante da tabacaria T&T clarifica que "esta não é uma questão de ocupação ou de reivindicação social". "Se sairmos corremos o risco de chegar de manhã e ter tudo encerrado com novas fechaduras", explica.
Cassiano Santos, proprietário do café Light, que funciona há 30 anos no centro comercial, diz-se já habituado a pernoitar no centro comercial, mas vive todos os dias numa incerteza que não recomenda a ninguém. O comerciante queria contratar alguém, mas não pode. "Com o alívio da pandemia, vejo que a clientela tem aumentado, mas não posso contratar ninguém para me ajudar porque não sei o dia seguinte", diz.
Preços incomportáveis
Cassiano Santos não procurou ainda por novo espaço fora do centro comercial, mas muitos procuram e deparam-se com um mercado de arrendamento "insustentável", diz a florista Vara Ferrari. "Nas pesquisas que fiz, pedem valores mensais de quase mil euros e seis meses de caução, é um preço incomportável", atira.
O Tribunal está a analisar a providência cautelar e já recebeu as contestações dos donos do centro comercial às alegações dos comerciantes para travar o encerramento. Será agora agendada no Tribunal uma audiência entre todas as partes para depois o juiz decidir.