<p>Três anos e meio depois de ser inaugurado, um dos grandes carrilhões do Mundo e o maior da Europa está parado. A decisão é do padre da paróquia de Alverca, a quem a população exige que os 72 sinos voltem a tocar.</p>
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Custou meio milhão de euros e se não fosse, pontualmente, o último concerto de Natal, não passaria de um mono, já que os habituais concertos no primeiro ano da sua existência deixaram de se fazer ouvir. Há quase dois anos que o carrilhão, composto por dezenas de sinos, está em silêncio porque - acusa a população de Alverca - o jovem padre José Maria Cortes, responsável pela paróquia, terá encetado um braço-de-ferro com os moradores próximos da Igreja dos Pastorinhos, que protestaram inicialmente com o som estridente.
"Ao princípio era um exagero. Tocava horas e horas, todos os dias. Cheguei a sair de casa porque não aguentava o barulho. Mas nunca dissemos para deixar de tocar. Pelo menos ao fim-de-semana", explica, ao JN, Mariana Contente, vizinha de Ana Maria Janeiro, uma das moradoras que, em 2006, mais levantou a voz contra a música. "Foi a população que pagou os sinos. É teimosia do padre. Ele até expulsou as rapariguinhas que tocavam lá e não as deixa lá entrar", acrescenta Maurílio Valentim, outro morador. Neste momento, apenas se houve o bater das horas e ao fim da tarde uma pequena música ecoa nos céus da freguesia, emitida da torre.
A população iniciou, entretanto, a recolha de assinaturas num abaixo-assinado, onde é exigido o regresso dos concertos regulares àquele equipamento, colocado numa torre de 50 metros de altura e que constitui um dos ex-libris da igreja onde se presta culto a dois dos três pastorinhos de Fátima. Junto com a igreja vizinha do Divino Espírito Santo, no Sobralinho, as infra-estruturas custaram cerca de seis milhões de euros, que ainda estão a ser pagos (ver caixa). Mas o investimento do carrilhão ficou logo saldado com a ajuda da população e de empresários. O JN tentou obter uma reacção de José Maria Cortes, mas esbarrou com os dias de descanso do pároco e homílias da quadra natalícia.
Polémica não tem faltado ao carrilhão, quase tão grande como a sua dimensão. Meses depois da inauguração [1 de Maio de 2005] e sem qualquer explicação, as duas irmãs carrilhanistas que asseguraram a programação musical, sem cobrar qualquer valor pela sua prestação, viram-se impedidas de aceder à torre. Ana e Sara Elias foram informadas primeiramente da decisão de José Maria Cortes, pela empresa que fazia a manutenção do equipamento. Só perceberam a dimensão de tal deliberação quando viram que não conseguiam sequer abrir as portas da torre, com as chaves que lhe foram cedidas. Apesar de ter questionado o padre pelo motivo que levou a tal silêncio, a dupla nunca teve qualquer resposta. As ordens de afastamento atingiram também o mentor do carrilhão, Alberto Elias, pai das carrilhanistas.