Camiões a gás são silenciosos. Motoristas e cantoneiros já não andam aos berros. Mudou a imagem da recolha noturna. Porto Ambiente dá recipientes para colocar nas cozinhas e reciclar restos de comida.
Corpo do artigo
São 19.30 horas. Nas chamadas oficinais gerais da Câmara do Porto, na Rua Acácio Lino, os "lixeiros" (antes assim tratados, agora são motoristas e cantoneiros) preparam-se para os circuitos pela cidade que hão de durar pela noite fora. O lixo ganhou o nome fino de "resíduos" e a pandemia obrigou a desfasar horários porque os cuidados nunca são demais. Este já não é um mundo à parte. Adaptou-se aos novos tempos, modernizou equipamentos e tem metas ambiciosas. A próxima, no que respeita à empresa municipal Porto Ambiente, é colocar um contentor de sete litros nas casas dos portuenses para lá colocarem os resíduos orgânicos. Ou seja, os restos de comida.
13581333
Nas oficinas gerais, António Abel, encarregado geral da noite, distribui os serviços. Antes de subir ao camião, cada equipa estreia uma máscara e um par de luvas descartáveis. Este é o turno que mobiliza mais homens. Passam a centena. Na rua, movidos a gás, os camiões são silenciosos. O trabalho continua a ter uma parte manual, mas tem muito de mecânico. O motorista conduz e é operador de grua para levantar o contentor, usando um comando.
Veterano e caloiro
Zé Maria é prata da casa. Trabalha na recolha há 21 anos. "Desde pequeno que sonhava ser motorista, faço aquilo que gosto. Há sempre comentários, mas já não somos vistos como lixo, antigamente éramos maltratados e enxovalhados na rua, hoje não é assim e espero que ainda melhore", diz, contando peripécias ocorridas na zona da movida, quando não havia pandemia, e em que o excesso de álcool levava a atos irrefletidos dos jovens, como a subida para o tejadilho dos camiões. Só de lembrar, Zé Maria deita as mãos à cabeça.
Comparado com o veterano, Carlos Silva é um caloiro. Está na Porto Ambiente há 16 meses. É cantoneiro. Descarrega os contentores. A paragem acontece em frente à Escola Secundária Aurélio de Sousa. "Sinto-me útil, ainda por cima numa época de pandemia. O meu trabalho, e o dos colegas, é muito válido. O lixo, já por si, comporta muitas doenças e pragas, por isso o nosso desempenho é essencial", comenta, numa noite sem chuva e com clima primaveril.
Carlos Silva e os companheiros sentem que, aos olhos da sociedade, a classe já não tem uma conotação negativa. "Os camiões são mais silenciosos e as equipas têm outro comportamento, não andam aos berros. Os lixeiros não são pessoas mal-educadas e incultas, as pessoas quando estão de fora é que fazem uma ideia errada", refere.
Próxima novidade
A ronda noturna é apenas uma faceta da grande operação da Porto Ambiente. Filipe Araújo, vice-presidente da Autarquia, abre o livro e desvenda uma das próximas novidades: "Além das pessoas nas suas casas separarem o papel, as embalagens e o vidro, queremos que separem cada vez mais. Em 60% da cidade vamos disponibilizar um novo contentor de sete litros, para terem nas cozinhas, onde vão passar a separar os resíduos orgânicos: restos de comida, vegetais e fruta. Colocam nesse recipiente e é providenciado um cartão que abre o contentor na rua, onde podem despejar os resíduos orgânicos."
Entre os melhores sistemas da Europa
Em que ponto está a reciclagem no Porto?
Fizemos uma opção há uns anos que foi criar uma empresa municipal para tratar dos resíduos e da limpeza urbana. Em boa altura o fizemos porque conseguimos alcançar os objetivos a que nos propusemos. Hoje, o Porto tem uma atitude perante a reciclagem que não tinha antes, conseguimos crescer entre 2016 e 2019 cerca de 50% na reciclagem.
As metas são arrojadas. Têm sido alcançadas?
As metas que tínhamos na reciclagem para 2020 conseguimos antecipar para 2019. O objetivo era conseguir 31% e 61 quilos por habitante/ano. Atingimos 37% e 64 quilos habitante/ano. Outra meta, no âmbito da Lipor, é enviar menos de 10% de resíduos para aterro. O município do Porto envia menos de 1%, praticamente não enviamos para aterro, o que, num país que envia cerca de 58% para aterro, coloca-nos entre os melhores sistemas da Europa.
Investir na frota foi determinante?
Mesmo sendo jovem, a empresa fez enormes investimentos: nos contentores e nos programas porta a porta (serviços não domésticos e o porta a porta residencial, ao qual aderiram 2000 famílias). Temos uma frota moderna, que provoca pouco ruído. Terá sido uma das maiores renovações de pesados a nível ibérico, são camiões muito eficientes.