Todos os dias circulam no Porto quase 600 mil carros. Os principais acessos da cidade estão permanentemente congestionados, de tal forma que o conceito de "hora de ponta" já não existe.
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A confusão está instalada a todas as horas e basta o mais pequeno acidente para mergulhar o trânsito no caos. As entradas estão entupidas: só pela ponte da Arrábida chegam diariamente 113 mil carros e pela do Freixo 118 mil.
Com a forte procura pelos centros urbanos, as circulares já começaram a funcionar acima da sua capacidade, como é o caso da Via de Cintura Interna (VCI), no Porto. Os carros que entram na Invicta juntam-se aos que, diariamente, já circulam na cidade e que José Pedro Tavares, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e diretor do Laboratório de Análise de Tráfego, estima serem cerca de 400 mil.
A VCI "deveria funcionar como uma rede distribuidora para a cidade" diz José Pedro Tavares. "Mas, muitas vezes, o que acontece é que, estando ela preenchida, as pessoas fogem para a rede local", contribuindo para os engarrafamentos na cidade que, só por si, já aumentaram com a quantidade de obras em curso no Porto, explicou.
Na VCI o valor médio de veículos que anda por volta dos 113 mil. "Em certas secções da via temos números superiores à sua capacidade. Já a CREP - Circular Regional Exterior do Porto tem números cinco vezes menores do que a VCI", refere José Pedro Tavares, justificando a configuração da rede para a fraca utilização. "É uma circular muito externa e o desvio é penalizante. As portagens são uma condicionante e a distância não compensa", observou.
São 240 mil as pessoas que entram diariamente na cidade do Porto - um número superior à população residente - e a principal ligação norte-sul é feita pelo interior do Porto. "Visualmente, consegue perceber-se que as alternativas não são viáveis", refere o docente.
De acordo com o estudo de José Pedro Tavares, as zonas do Marquês e Antero de Quental têm uma forte procura todo o dia. Mas também no final da Rua da Constituição, no cruzamento com a Avenida de França e até à rotunda da Boavista, se verifica uma afluência constante.
Ligadas ao veículo
Por outro lado, a utilização do transporte público, que com a implementação do passe único registou um aumento de passageiros, continua a não ultrapassar os 11% de utilização. Este fator agrava a situação. E mesmo acreditando que "a rede de transportes públicos é boa", José Pedro Tavares afirma que "as pessoas ainda estão muito ligadas ao veículo", justificando assim a fraca utilização dos transportes.
Em Lisboa, a Autarquia baixou o valor dos passes sociais em setembro e, segundo a Câmara, "é provável que o número de carros a entrar e a circular na capital tenha diminuído ". Prevê-se que, até 2030, a utilização dos transportes suba dos 25% para 30%.
Em Lisboa, o cenário é idêntico. Diariamente, entram na capital 370 mil veículos, que se somam aos 200 mil que já circulam na cidade. Grande parte dos veículos chegam da margem sul do Tejo, mas só pela A1 entram 100 mil. Os números do relatório de tráfego na rede nacional de autoestradas do Instituto da Mobilidade e dos Transportes mostram que pela Ponte 25 de Abril passam, em média, mais de 143 mil carros por dia, número que se mantém constante ao longo do ano.
Pormenores
3,4 milhões de viagens por dia - em toda a Área Metropolitana do Porto, efetuadas com recurso ao automóvel, ao transporte público ou à mota.
255 mil viagens por dia no Porto - Cerca de metade delas são feitas com recurso ao carro em detrimento do transporte público.
30% de utilização do transporte público - É quanto a Câmara de Lisboa prevê alcançar até 2030 para diminuir o número de carros na cidade.