Grande parte da construção em Lisboa não está preparada para um terramoto. Estima-se que morram entre 17 e 27 mil pessoas num próximo abalo.
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"Quando Lisboa voltar a tremer, estima-se que morram "entre 17 e 27 mil pessoas" e "centenas de milhares fiquem desalojadas". Na capital, "mais de metade dos edifícios não foram construídos para resistirem a sismos", alerta Mário Lopes, engenheiro civil especialista em sismos, que acredita que "estamos muito longe de fazer o que devíamos" para prevenir os danos de um terramoto. As autarquias de Lisboa e Faro - as zonas mais vulneráveis do país - dizem estar a preparar-se e o município lisboeta acredita mesmo que é possível evitar colapsos de edifícios.
Lisboa é a segunda cidade europeia com maior risco sísmico. É certo que um terramoto semelhante ao de 1755 vai repetir-se, só não se sabe quando. As consequências de um grande abalo são inevitáveis, mas há coisas que se podem fazer agora para as minimizar. "O nosso problema está, maioritariamente, nas construções antigas, com fraca resistência, e na falta de fiscalização da construção nova. Se esta não estiver preparada, os meios de socorro nunca hão de estar. As pessoas morrem quando as casas lhes caem em cima, o socorro já não as salva", considera Mário Lopes.
68% dos edifícios que existem na Área Metropolitana de Lisboa foram construídos antes de existir legislação de proteção sísmica eficaz, que entrou em vigor em 1983.
O especialista em construção antissísmica explica que a devastação provocada pelo terramoto que atingiu a Turquia e a Síria, no início do mês, não se explica só pelo "sismo muito forte", mas também pela "má qualidade da construção". Na capital, hoje há mais construção nova, mas "mais de metade dos edifícios, onde vivem 500 a 600 mil pessoas, não foram construídos para resistirem a sismos". O engenheiro civil diz que "estamos a meio caminho" e lamenta que "nas últimas décadas o poder político tenha fechado os olhos" ao problema.
"Há uma grande omissão legislativa a nível de regulamentos técnicos para o cálculo sísmico e equipamentos eletromecânicos, o que significa que vamos ter danos que podíamos evitar", observa. Para Mário Lopes, "estamos muito longe daquilo que devíamos estar a fazer para estarmos razoavelmente preparados, mas estamos melhor que a Turquia e a maior parte dos países". Propõe que se faça "uma avaliação aos edifícios construídos antes de 1983" e obras de reforço antissísmico.
Projetos fiscalizados
Para prevenir os impactos de um terramoto, a Câmara de Lisboa vai "implementar uma medida ao nível do licenciamento urbanístico, tornando obrigatória a entrega do Relatório de Avaliação de Vulnerabilidade Sísmica na aprovação do projeto de arquitetura". Irá ainda disponibilizar, no próximo mês, "a Ficha de Resiliência do Edifício, plataforma que permitirá a qualquer cidadão observar os riscos a que o seu edifício está exposto". O município diz que se todo o processo a nível legislativo for cumprido, desde o projeto à execução em obra, o colapso das estruturas não ocorrerá".
A Câmara de Faro diz que "perante um cenário semelhante ao ocorrido em 1755, o grau de devastação será tão grande" que terá de vir ajuda do estrangeiro, "até porque não há certezas se as forças de proteção e socorro locais não ficarão comprometidas". A autarquia algarvia diz ainda que algumas edificações de zonas antigas já foram intervencionadas e apresentam uma maior e melhor resistência a este tipo de fenómenos".
Terramoto de 1755
O número de mortes estimadas na sequência do terramoto de 1755 é de 90 mil. Cerca de 85% das construções de Lisboa foram destruídas, como o Convento do Carmo.