<p>É das obras de maior envergadura em curso no Norte: a nova ponte sobre o Douro vai ligar Medas (Gondomar) a Lever (Gaia) e estabelecer-se como referência na saída para Sul. De um lado e de outro, vêem-se vantagens, mas os de Lever apresentam reclamações.</p>
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Para os de Medas, freguesia de 2500 habitantes no concelho de Gondomar, é tudo lucro, seja qual for a direcção: "Poupamos meia hora nas saídas para sul, e a mesma coisa para o interior norte, fica-se muito mais perto da A4 e de subir para Trás-os-Montes". António Carvalho, presidente da Junta de Medas (PSD), é entusiasta da nova ponte sobre o Douro que vai unir Gondomar ao concelho vizinho de Gaia. "É fantástico, é Medas no meio do mundo".
A nova ponte, a maior das cinco rodoviárias junto à foz do Douro, e que estará pronta em Abril de 2011 e traz acopladas três novas auto-estradas (ver outro texto), tem uma inegável vantagem: passa a permitir o atravessamento do rio sem necessidade de entrar no Porto. O préstimo é também para a Invicta: a nova ligação vai descongestionar o trânsito na VCI-Via de Cintura Interna em 13 mil veículos/dia - será menos 12% de tráfego, diz uma estimativa do Ministério das Obras Públicas.
A obra, da autoria do arquitecto Armando Rito, é de betão armado pré-esforçado, branca e parecida com a do Infante na sua linha magra e minimalista. Mas tem envergadura: 790 metros de comprimento, 45 de altura, está a custar 35 milhões de euros, e dá emprego a 330 operários - muitos deles da freguesia de Medas, da vizinha Lever, e de concelhos mais próximos, como Penafiel e Baião.
O presidente da Junta António Carvalho vê outra vantagem para o seu lado: "Vai seguramente aumentar serviços e indústria, e, assim, ajudar a fixar população - nos últimos dez anos perdemos uma centena de pessoas", diz.
O desenvolvimento da freguesia também é esperado pelos comerciantes da região. É o que diz José Marques, proprietário há 22 anos da Foto Marques: "Facilita tudo, é mais rápido sair, mais rápido entrar. Talvez traga indústria, que aqui não há - e sem indústria, como se sabe, não se desenvolve o comércio", diz o medense.
Fixar pessoas, trazer indústria
Se para os habitantes de Medas a esperança está nas novas acessibilidades, o mesmo dizem os do outro lado, da vila de Lever, concelho de Gaia. "Também economizamos em tempo, claro, e o tempo custa dinheiro", diz o presidente da Junta, Manuel Gama.
Mas, antes de ver outras vantagens - "talvez chame outlets, grandes armazéns, talvez ajude a fixar população; perdemos 500 dos nossos cinco mil habitantes" -, o autarca reclama: "A vila está com seis ruas esburacadas e muito maltratadas devido à passagem excessiva de camiões carregados para a ponte. A Rua Central, já viu?, está toda rebentada", diz o presidente da Junta, eleito pelo PSD. "Mas tenho a promessa do concessionário da obra de que tudo se vai arranjar".
Ponte afasta circulação do centro
A oposição na Assembleia de Freguesia vai mais longe e, para já, só vê desvantagens: "Até agora o benefício da nova ponte para Lever é zero", diz José Barbosa Sousa, deputado local, ex-construtor. "Não é uma crítica, é uma constatação. Estamos com muitas ruas cortadas e cravadas de buracos. Até agora só vejo perturbação".
O comerciante António Tavares, dono do Bazar Central, junta-se à crítica: "No meu ver, vai ajudar à desertificação. Porquê? Porque vai haver menos pessoas a passar pelo centro de Lever e pela EN 228. Quem sair para sul, apanha logo a A29 e deixa de passar aqui. E, para nós, isso não é bom".