Lojistas em agonia pedem à Câmara de Gondomar que não avance para obra geral, que vai alargar passeios. Município revê esplanadas.
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Comerciantes e moradores da zona da Areosa, em Gondomar, estão contra as alterações de trânsito feitas na Rua D. Afonso Henriques - uma das vias mais utilizadas no Grande Porto -, como o sentido único descendente e a eliminação de uma das faixas de rodagem. Meio ano depois de ter sido implementada, a título experimental, a solução é contestada e perante o acumular de prejuízos, os lojistas pedem à Autarquia que não avance com a empreitada geral, que inclui o alargamento dos passeios. A Câmara, que quis desafogar a artéria, vai rever as esplanadas, mas mantém a intenção de alargar os passeios.
Bruno Ferreira, do talho Carnes Casal, aberto há 12 anos, é um dos que ponderam fechar portas se as alterações avançarem: "Isto piorou muito. Desde agosto já fecharam seis negócios! Faturamos menos 250 mil euros e tivemos já de despedir dois funcionários". Para o comerciante, a falta de clientes é provocada pela mudança dos autocarros [no sentido ascendente] para a Rua Heróis da Pátria, sugerindo que a situação seja corrigida na D. Afonso Henriques com a criação de um canal bus, a exemplo do que acontece na Rua de Costa Cabral, no Porto. "Criaram aqui lugares para cargas e descargas que são utilizados para estacionamento abusivo. É uma pouca vergonha", acrescentou.
Também Maria Martins, com loja aberta há 23 anos, regista que "não se veem melhorias no trânsito", criticando a diminuição de autocarros, uma vez que com isso "as pessoas deixaram de transitar na rua". A opinião é partilhada por uma moradora: "O trânsito não ficou melhor".
"Se o negócio estava mau, agora piorou", desabafou a dona de um café, que preferiu não ter esplanada. A hipótese de ter mesas e cadeiras na faixa de rodagem desativada não lhe agrada, pelo potencial risco para os clientes. "Não quis ter essa responsabilidade".
Concurso ainda neste ano
Aliás, dos cerca de 12 comerciantes que inicialmente aceitaram estender o negócio para a rua, só um mantém a esplanada. O JN constatou que ninguém usa os bancos postos na faixa de rodagem, juntamente com umas floreiras.
Rui Sousa é outro dos lojistas que entendem que "as alterações não vieram melhorar em nada o negócio". "Em horas mortas não se vê uma pessoa na Rua D. Afonso Henriques", garantiu.
António Santos, com loja na Rua Mártires da Pátria, é dos que tecem elogios à mudança: "O trânsito estava muito atrofiado nesta zona da Areosa e agora não há problemas de circulação".
Questionado pelo JN, o presidente da Câmara, Marco Martins, assegurou que a Autarquia "mantém a previsão de alargar os passeios", devendo o concurso da obra ser lançado ainda este ano. O autarca prometeu "para o início da primavera rever o mobiliário urbano ali colocado". "O que a Câmara procurou, dada a dinâmica excessiva da D. Afonso Henriques, foi criar equilíbrio", explicou, sublinhando que "alargar os passeios servirá para garantir a circulação de quem tem mobilidade condicionada". Quanto ao fecho de lojas, considerou que "não existe qualquer relação direta com a intervenção" do Município.
Constrangimentos
Desde setembro passou a ser permitido a viragem à esquerda para a Rua Heróis da Pátria para quem desce a Rua D. Afonso Henriques. A alteração tornou-se necessária, uma vez que a obrigatoriedade de ir à rotunda do final da Avenida Fernão Magalhães e contorná-la provocava constrangimentos.
Passeios mais largos
Na Rua D. Afonso Henriques está ainda previsto o alargamento dos passeios, a sul da Rua António Feliciano de Castilho, e a colocação de árvores. Nas ruas da Feira, das Oliveiras e das Arroteias haverá supressão de estacionamento também para alargar os passeios.