Em Santa Maria da Feira as tecnologias e redes sociais não afastam as novas gerações da secular tradição da Festa das Fogaceiras. As meninas continuam a mostrar "orgulho" em vestir de branco, reiterando o voto e fé ao Mártir S. Sebastião em tempos de nova pandemia. Na quinta-feira, Leonor Barbosa e Matilde Marques, estudantes aplicadas, vão faltar às aulas. Não haverá censura, pelo contrário.
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No dia em que o concelho se une nas preces a S. Sebastião para que mantenha as gentes a salvo desta e outras "pestes", as duas jovens fogaceiras vão transportar o afamado pão doce, mas também a fé dos feirenses, num ato honroso e reconhecido. "Não há problema em faltar às aulas. Comuniquei ao colégio e foram compreensivos para que possa justificar as faltas", garante Leonor Barbosa, 12 anos, fogaceira que representará a freguesia de Canedo. Este ano, a festa das fogaceiras será celebrada de forma mais restrita, sendo o desfile composto por 31 meninas, representando cada uma das freguesias da Feira.
A estudar fora do concelho e, por isso, não abrangida pelo feriado municipal, Leonor Barbosa confirma sentir "muito orgulho" e acredita que, "com crença e devoção a S. Sebastião, se conseguirá mudar estes tempos de pandemia".
Diz-se "feliz" pelo facto de o cortejo e a procissão voltarem a percorrer as ruas do centro histórico, depois do interregno do ano passado.
"É um novo começo. Mesmo não contando com a presença de todas as meninas [participavam cerca de 300], sinto que estamos a regressar à normalidade".
Também Matilde Marques, 16 anos, fogaceira de Mozelos, recebeu a compreensão dos professores pela não comparência nas aulas na quinta-feira.
Com igual "orgulho", explica que a participação representa "um ato de fé". "Acredito que podemos aplicar a devoção a S. Sebastião à situação da covid e que a fé é importante para acreditarmos que estas coisas vão passar".
Tradição de beliscar
É, talvez, uma das tradições menos conhecidas do público: As meninas levam a fogaça à cabeça durante o cortejo e a procissão e algumas aproveitam para, de forma contida e quase despercebida, ir comendo parte do interior do pão doce. "Quando estamos paradas, furamos a fogaça com os dedos e vamos comendo o miolo. Quando a fogaça chega a casa, já depois de ter sido benzida na missa, pouco tem para comer", confessou uma das meninas, ao JN.
No ano passado, esta "tradição" não se cumpriu. As regras relacionadas com os cuidados a ter devido à covid-19 fez com que todas as fogaças fossem previamente envolvidas em película plástica aderente, impossibilitando as meninas de saborearem e retemperarem energias com o secular pão doce da Feira.