Os abraços recebem os dois estranhos que entram em casa. Apesar do olhar distante, não hesitam em querer sentir quem chega para os conhecer. Especialmente Ângelo. Tem quatro anos e ainda não fala, por isso o primeiro instinto é agarrar. Já Diego, com seis anos feitos anteontem, só quer mostrar a sua mota. Atropela-se nas poucas palavras que sabe dizer. A ambos foi diagnosticado autismo.
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Isso não seria um problema se o sistema educativo funcionasse, diz Márcia Couto, mãe dos meninos, afirmando que a falta de tarefeiros e de assistentes operacionais na Escola Básica 1/Jardim de Infância da Maia está a atrasar o desenvolvimento dos dois filhos.
Ambos frequentam a pré-escola. "A professora tem uma turma com 25 crianças. Sem tarefeiras para ajudar é impossível, está sobrecarregada", reclama, indignada, Márcia.
As crianças não são autónomas. Principalmente Ângelo que, ao contrário do irmão, que tem síndrome de Asperger, tem um grau mais profundo de autismo. Aos quatro anos ainda não fala, só emite sons, e ainda usa fraldas, pelo que precisa de acompanhamento para praticamente tudo. ´
"A falta de tarefeiras atrasa o desenvolvimento dos meninos e, sozinha, não consigo pagar as sessões de terapia para os dois", lamenta a mãe.
Apoio extra repartido
De acordo com a Autarquia, "o Ministério da Educação deu indicação para a colocação de uma assistente operacional para o apoio a crianças com necessidades específicas que frequentem a educação pré-escolar na EB1 da Maia". Contudo, acrescenta que no despacho onde é consagrado este apoio não são identificadas as crianças. "O estabelecimento de ensino tem quatro salas de educação pré-escolar e todas têm crianças nestas condições. O apoio extra de uma assistente operacional terá de ser repartido pelas quatro salas", explicou a Câmara. O facto é que ainda não foi colocada qualquer funcionária extra.
O Ministério confirma que a escola aguarda colocação de assistentes operacionais pela entidade competente, "que é neste caso a Câmara da Maia". Está também proposto um reforço de assistentes para o agrupamento.
Márcia lamenta que a solução tarde em chegar. "Tudo falha. Os meninos deviam receber a visita de uma terapeuta do centro de saúde de Águas Santas, que vinha a casa e à escola, mas que deixou de aparecer", sublinha a mãe, acrescentando que haverá uma reunião para perceber por que razão as visitas foram suspensas.
Pormenores
Segurança Social - A família pediu em setembro a troca do subsídio de assistência de 3.a pessoa pelo subsídio de educação especial, que permitiria custear as sessões de terapia das crianças: cada uma custa 50 euros. A resposta ao pedido só chegou anteontem. Segundo Márcia, a Segurança Social informou que o processo foi deferido. Até agora, a mãe não conseguia pagar a terapia necessária para Ângelo e Diego.
Acompanhamento - De acordo com os relatórios médicos, tanto Diego como Ângelo devem receber o "acompanhamento de uma educadora do ensino especial, bem como sessões semanais de terapia da fala e ocupacional".