Mercado do Bolhão reabriu há um mês e é um sucesso: "Por este andar, compro a casa ao senhorio"
Mercado do Bolhão, no Porto, reabriu há um mês. Número de visitas já superou o meio milhão e o negócio tem florescido.
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"Por este andar, compro a casa ao senhorio." Em cinco ou dez anos, Paula Viana acredita que terá dinheiro para comprar a casa onde vive. Há 38 anos que vende no Mercado do Bolhão, no Porto, 18 dos quais a vender fruta. Está há precisamente um mês na casa nova e confessa: "Vendo muito mais". O sucesso é transversal a todas as bancas, mas Luísa Silva não se fia nos últimos 30 dias. "Há gente que é curiosa e que gosta de ver", observa, receando uma diminuição da afluência à medida que o espaço deixe de ser novidade.
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Os números falam por si: até hoje, mais de meio milhão de pessoas já visitou o "novo" Bolhão - como preferem chamar-lhe os comerciantes, por respeito às décadas vividas num edifício a gritar por obras -, sendo que a afluência média diária, durante a semana, é de 20 mil visitas e de 30 mil ao sábado (está fechado aos domingos).
"Afluência sem igual"
São 15 horas e quase metade da banca de Sara Araújo, a famosa e histórica "peixeira Sara", está vazia. "Não vou embora sem isto estar tudo vendido", diz serena, confiante de que todo o peixe desaparece muito antes de o mercado encerrar.
"É uma afluência sem igual. A gente fecha às 20 horas e cinco minutos antes vem tudo cá para dentro", descreve a comerciante de 51 anos. Ela que, mesmo antes de o sol nascer, já está de pé. Chega ao Bolhão às seis da manhã.
Quanto aos preços, Maria Pinto desmistifica: "Não somos nós que aumentamos". Paula Viana esclarece: "Pensam que é por causa das rendas, mas não. O valor manteve-se [à volta dos 200 euros]". Aliás, Luísa Silva pagou ao fornecedor "mais 40 cêntimos" pelos enchidos que vende na salsicharia. "Está a subir em todo o lado", reconhece.
E, no final de contas, na "Maria do Álvaro" continua a "vender-se de tudo". Há "mais gente", mas também "muitos turistas". "Toda a gente vem visitar o Mercado do Bolhão", relata a comerciante, com 45 anos de casa, que não tarda em apresentar os legumes que vende. "Olhem só que grandes tomates eu tenho", atira, entre sonoras gargalhadas. Com uma dinâmica de brincadeiras entre comerciantes e os próprios clientes, muitas situações servem para que grupos de turistas, de telemóveis em punho, registem uma série de momentos para mais tarde recordar. E a presença de estrangeiros já alterou estratégias de venda.
"Uma boa comerciante nunca diz o que é que vende mais nem quanto faz", mas na banca de Paula Viana já há fruta embrulhada em película aderente com colheres de plástico. "[Os turistas] não trazem colher para comer, não é? E acham piada e levam. Mas os portugueses também. É pitaia. Um quilo custa 18 euros, mas esta fruta não é de cá", justifica, num arregalar de olhos.
"É a minha casa"
Do outro lado do mercado, enquanto Luísa Silva espera pelos porcos que estão para chegar, enfarinha 30 quilogramas de tripas para vender no dia seguinte. Tripas essas que já foram limpas e cozidas num espaço reservado só para o seu negócio, que fica no meio da escadaria principal. Além da cozinha para a salsicharia de Luísa, há mais três espaços para outros três comerciantes.
"Lavamos as tripas lá em cima. São cozidas lá, e o sangue também. Aqui [num anexo de apoio à banca], tenho sempre uma panela que as mantém quentinhas. Tem sido uma loucura vender tripas. É o cheiro típico do mercado antigo", sorri, recordando a quantidade de clientes que já admitiram, precisamente, ter "saudades" daquela característica. Um sentimento não só partilhado pelos fregueses. Até porque, independentemente de a influência diminuir ou não, o Bolhão será sempre onde Luísa se sente bem. "É a minha casa."
Crianças estreiam "Cozinha do Bolhão"
Será a primeira vez que as portas da "Cozinha do Bolhão" vão abrir-se ao público. Nas próximas terça e quarta-feira, crianças do pré-escolar e da escola primária vão fazer compras nas bancas para, depois, no espaço da cozinha do mercado, fazerem o seu próprio pequeno-almoço. As sessões são promovidas em conjunto com as escolas e na próxima semana, André Cabrita, um chef da cidade, junta- -se às crianças. "Esta cozinha é um espaço que já existia [mas que não era utilizado], onde pretendemos realizar inúmeros eventos. O "chef à moda do Bolhão" é um deles: aos sábados, teremos um chef que vai adquirir produtos no próprio mercado. Vem confecioná-los [à cozinha] e as pessoas poderão assistir", explicou ao JN Cátia Meirinhos, vice-presidente da empresa municipal GO Porto.
A saber
Visitantes
Até à passada quinta-feira, o número de pessoas que visitaram o Mercado do Bolhão já ultrapassava os 558 mil. A Go Porto acredita ultrapassar, hoje, a meta dos 600 mil visitantes.
Restaurantes
Os dez restaurantes presentes na parte superior do Bolhão ainda não abriram. As obras nos espaços continuam, mas espera-se a sua abertura para breve.
Horários
Durante a semana, o Mercado do Bolhão abre às 8 horas e fecha às 20 horas. Abre à mesma hora ao sábado, mas o encerramento está marcado para as 18 horas. Ao domingo está fechado.