Rui Moreira visita o Bolhão: "Tenho um sentimento misto, de ansiedade e de dever cumprido"
Durante as obras, visitou o Bolhão "cerca de 20 vezes" e agora, com o mercado a funcionar no edifício reabilitado, confessa que, sempre que entra pelo portão da Rua Formosa, embarca num "percurso de memórias e emoções". Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, fez ao JN uma visita guiada pelos corredores, ao longo das bancas e por entre a multidão de visitantes que o Bolhão continua a atrair. Ouve os comentários, sempre positivos, e é por isso que, apesar da ansiedade, nutre o sentimento do dever cumprido.
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"Sempre que aqui entro sinto uma mistura de emoções. Por um lado, há ansiedade. Será que as pessoas vão aparecer outra vez? Será que hoje vêm? É um bocadinho aquela sensação que tinha quando andava na universidade e fazia um exame. Podemos ter a matéria toda estudada e achar que somos um ótimo aluno, mas há um momento que é o exame", refere o autarca, que na passada quinta-feira, às oito da manhã, fez soar o sino instalado junto à entrada do mercado, pela Rua de Fernandes Tomás, anunciando a reabertura do Bolhão quatro anos depois de ter entrado em obras.
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"É aqui que o exame é feito pela população. Na quinta-feira havia muitos mirones, mas no segundo dia não. Daí a minha ansiedade de todos estes dias. Será que as pessoas vêm às compras? Daí ter este sentimento misto de ansiedade, mas também de dever cumprido e de poder dizer que fiz o possível para que isto corra bem", acrescenta o presidente da Câmara do Porto.
Rui Moreira recorda quatro anos em que nem tudo foi fácil. Os contratempos surgidos com as escavações do subsolo, a pandemia que infetou operários e fez parar os trabalhos e depois a guerra e consequente falta de materiais. O sucesso agora alcançado resulta e muito do "restabelecer da confiança dos comerciantes".
O autarca recorda que quando chegou à Câmara foi-lhe parar às mãos um projeto delineado no mandato anterior que previa a "colocação de uma tampa" sobre o mercado. "Decidi avançar para um projeto e começámos a definir o queríamos. Eu queria que isto fosse um mercado municipal de frescos e não uma concessão, como aconteceu no Bom Sucesso ou no Mercado da Ribeira em Lisboa", recorda Moreira. Mas os vendedores e as vendedeiras já não acreditavam em qualquer recuperação, pois durante anos foram-lhes feitas promessas que acabaram por não se cumprir.
Fartos de promessas
"Lembro-me de em 2013 vir a descer em campanha eleitoral a Rua de Sá da Bandeira e de encontrar o Alcino Sousa, na altura o presidente da associação dos comerciantes do mercado, e de ele me perguntar se eu não ia entrar. Disse-lhe que não faço promessas e se fosse ao Bolhão já sabia o que iria acontecer", acrescenta.
Por isso, os comerciantes ficaram "desconfiados" quando foram para o centro comercial La Vie. Um espaço alugado e dotado de "todas as condições e conforto" para eles operarem. "Fui muitas vezes ao mercado temporário até porque sou consumidor do mercado e ia lá fazer compras. Dava uma volta para dizer o que queria comprar, comia um peixinho na Gina, e depois regressava às bancas para comprar e levar para a Câmara, antes de levar para casa. E vou continuar a vir cá muitas vezes", explica.
Criaram-se laços, visíveis hoje quando o autarca circula pelo mercado. É abordado e felicitado. A gratidão é demonstrada de forma genuína, até porque no Bolhão não pode ser de outra forma. O brilho nos olhos do presidente denuncia emoção. "Venho ao Bolhão provavelmente desde os cinco ou seis anos. A primeira vez foi com a minha avó, que morava na Rua da Constituição, junto ao Marquês. A minha avó comprava aquilo que ela chamava as coisas da época. Feijão e grão de bico para as sopas. Eu gostava de vir com ela porque ela comprava manteiga e pão e depois chegávamos a casa e ela fazia sempre umas torradinhas", recorda, despedindo-se de seguida para ir comprar cogumelos.