Os mergulhadores envolvidos nas ações subaquáticas na pedreira atingida por deslizamento de terras, em Borba, enfrentam um trabalho "muito difícil" e "dos piores pesadelos" da atividade.
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Os operacionais que tiverem de mergulhar no plano de água da pedreira "enfrentarão, realmente, dos piores pesadelos que podemos ter na atividade de mergulho", afirmou à agência Lusa Simão Velez, coordenador da Unidade de Salvamento Aquático do Distrito de Portalegre, que participa nas operações no local.
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Segundo o coordenador, desde terça-feira, a unidade, que é composta por 24 operacionais de várias corporações de bombeiros do distrito de Portalegre, entre mergulhadores, condutores de embarcação e guias de mergulho, tem mobilizado uma equipa de cinco ou seis mergulhadores por dia para participar nas operações.
O deslizamento de um grande volume de terras e o colapso de um troço de cerca de 100 metros da estrada entre Borba e Vila Viçosa, no distrito de Évora, para o interior de poços de uma pedreira ocorreu na segunda-feira às 15.45 horas.
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Segundo as autoridades, o colapso do troço da estrada terá arrastado para dentro da pedreira contígua, com cerca de 50 metros de profundidade, uma retroescavadora e duas viaturas civis (um automóvel e uma carrinha de caixa aberta).
Além de dois mortos confirmados, operários da pedreira, há três pessoas dadas como desaparecidas.
A operação na zona é "muita delicada e complexa" e há várias variáveis que "aumentam a complexidade da atividade de socorro", como a configuração do local do sinistro e a instabilidade do terreno, que "influenciam desfavoravelmente as intervenções" em terra e subaquáticas, frisou.
Já o plano de água da pedreira, explicou, é "um cenário bastante complexo e de elevada dificuldade" para ações subaquáticas, devido à irregularidade do terreno e à profundidade e porque "não há visibilidade" dentro de água.
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Segundo a análise do plano de água, "existiam profundidades que iam até aos 30 metros", mas ainda não se sabe exatamente se os balcões mais profundos terão ficado preenchidos com a matéria que deslizou e se, atualmente, têm ou não "profundidades menores".
Por questões de segurança, devido ao risco de novos deslizamentos de terras, os mergulhadores ainda não tiveram condições para chegar à zona mais funda do plano de água, ou seja, a que está "mais próxima da parede que abateu", para validar a área. "Não há condições, por agora, de se conseguir lá meter operacionais, porque estaremos a pôr em risco a vida" deles, alertou.
Já na zona do plano de água da pedreira mais afastada da parede que abateu e já foi validada por mergulhadores, a profundidade varia entre 14 e 21 metros, disse.
Qualquer mergulhador que entre naquele plano de água está sujeito a ficar preso
Os mergulhadores têm "de contar" com a massa de terras e as pedras irregulares que deslizaram e as estruturas e os equipamentos que foram arrastados e estão no plano de água, disse.
Postos elétricos que estavam junto à estrada, partes da vedação de proteção metálica envolvente da pedreira, uma grua completa, um elevador metálico que estava suportado na parede que abateu e um gerador são algumas das estruturas e dos equipamentos arrastados.
"Há um conjunto de estruturas e equipamentos que, naturalmente, potenciam a prisão do mergulhador", devido a facto de não conseguir vê-los antecipadamente e torna a operação "muito difícil" e, por isso, é "necessário" adotar "procedimentos muito concretos em termos de rigor no âmbito da segurança", sublinhou.
"Qualquer mergulhador que entre naquele plano de água está sujeito a ficar preso" numa das estruturas ou num dos equipamentos e, se tal acontecer, "temos que recorrer a uma manobra de apoio para o libertar", sublinhou.
O "propósito" do trabalho dos operacionais da unidade é "retirar os corpos das vítimas", que as autoridades acreditam estarem no interior das viaturas, "para dar conforto às famílias e permitir que façam as honras fúnebres", explicou.
Na terça-feira à tarde foi retirado o corpo de um de dois mortos confirmados e há ainda três pessoas dadas como desaparecidas.