Trabalho encomendado ao Laboratório de Engenharia Civil. Especialista diz que pico de chuva e rede fragilizada explicam a situação.
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Um pico de chuva intensa e uma rede de drenagem sem capacidade para tanta água e fragilizada pelas obras do metro em curso na zona. Esta é a explicação que Bento Aires, presidente da Ordem dos Engenheiros - Região Norte, encontra para a enxurrada que no sábado lançou o caos na Baixa do Porto, sobretudo em S. Bento, e transformou a Rua de Mouzinho da Silveira num rio.
Mesmo sem que esteja assumida uma relação direta entre as obras da Metro para a Linha Rosa e a inundação, a empresa vai pedir ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil um estudo às infraestruturas de drenagem - atuais e futuras - face ao sucedido. A Metro, a Câmara e o empreiteiro das obras da nova linha reuniram-se logo na noite de sábado e foi decidido demolir alguns muros e outros elementos que podiam dificultar a passagem das águas pluviais. O estudo deverá analisar, também, o desvio do rio da Vila, que passa no subsolo da Rua de Mouzinho da Silveira e passará para a Rua das Flores, numa galeria com um diâmetro superior ao atual.
Um dia depois do susto que afetou dezenas de lojas, a Rua de Mouzinho da Silveira foi reaberta ao trânsito. O trabalho de reposição dos paralelos e de limpeza foi feito a ritmo acelerado pelos serviços camarários.
Bento Aires acredita que este foi um episódio esporádico, que não permite colocar o Porto no mesmo nível de problemas que Lisboa tem, mas deverá servir de alerta. O especialista defende a realização de testes de stress às infraestruturas para avaliar a sua capacidade de resposta. Até porque, sublinha, cada vez são mais frequentes os episódios climáticos extremos. Os testes permitirão melhorar a rede que, ainda assim, está dimensionada para picos de precipitação.
Níveis de precipitação
"A chuva atingiu com mais intensidade o centro do Porto durante meia hora, e os números apontam para valores entre os 23 e os 25 milímetros [por metro quadrado]", explicou Maria João Frada, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera. A meteorologista diz que, por norma, a cidade regista valores superiores, o que leva a crer que "possa ter havido algo que piorou a situação e provocado as inundações". Ainda assim, sublinha que a situação "não se compara com o que foi registado recentemente em Lisboa ou Coimbra, onde os valores chegaram a ser o dobro".
Maria João Frada assegura que "o pior já passou", afirmando que o quadro é de melhoria para próximos dias. "Vai haver um desagravamento do estado do tempo a partir do dia 11, com o céu pouco nublado. A chuva continua a persistir, mas pouco intensa".