Metrobus derrota descrença na Lousã: "A viagem faz-se bem, é tranquila e mais rápida"

Luís Montenegro com o presidente da Metro, João Marrana, e o ministro Pinto Luz
Foto: Paulo Novais/Lusa
Quinze anos após falsas promessas, chegaram à zona serrana os autocarros elétricos em via dedicada. Muita procura e elogios.
"A partir de hoje tem a Louzã o seu caminho de ferro. Saudemos a locomotiva; bem vinda seja. Abre-se-nos uma era nova; vão modificar-se e transformar-se rapidamente conforme as condições da nossa vida local". Fez esta terça-feira 119 anos que o comboio entrou na Lousã, como conta o "Louzanense" de 16 de dezembro de 1906. A história não se repete, mas às vezes parece. Hoje, o metrobus chegou à Lousã, 15 anos após o encerramento do ramal ferroviário da zona serrana. "O dia em que a história e o futuro se encontram", escreveu o Metro Mondego, responsável pelo Sistema de Mobilidade do Mondego, entre Coimbra e Serpins.

Metrobus circula na antiga linha de caminho de ferro (Foto: Paulo Novais/Lusa)
Foram 15 anos de promessas para Miranda do Corvo e Lousã, a quem arrancaram o caminho de ferro para dar lugar a um metro de superfície. As situações ficaram sem trem, o metro de superfície nunca saiu das gavetas e as viagens passaram a ser feitas de autocarros por estradas "assinadas" por curvas.
Talvez por isso, esta terça-feira, na estação mais distante, Serpins (Lousã), Fernanda Quatorze, 65 anos, olha atenta para o metrobus, o autocarro elétrico em via dedicada, que vai de Coimbra às sete horas. A noite dá brilho ao transporte que parecia impossível. "Perdemos a esperança muitas vezes", diz ao JN. Ao lado, Diana, estudante de 15 anos, a caminho de uma Secundária de Coimbra, parece estar a ouvir a descrição dos pais e avós.

Diana viajou de Serpins para Coimbra
O autocarro, que segue pelo corredor requalificado do antigo caminho de ferro, e que parecia grande para os quatro passageiros que entraram em Serpins, já está com pessoas em pé quando sai da Lousã, duas paragens à frente. Foi assim às horas de ponta. La Salette Carneiro, 52 anos, também se estreia no percurso suburbano. "É confortável, pouco barulhento e parece rápido. Sinto-me mais seguro". Sempre que puder, vai deixar o carro quando for trabalhar para Coimbra, poupando os 150 euros que gasta mensalmente em combustível.
O desagrado vai para os horários, nomeadamente, para o último metro que sai de Coimbra ao sábado, às 23 horas, e ao domingo, às 23.25 horas, mais cedo que durante a semana, 0.30 horas. "Há muita gente que trabalha em centros comerciais, na restauração e por turnos e assim não consegue apanhar o autocarro", repetem, esperando que as solicitações sejam atendidas.
São 8.02 horas, o metro chega à Portagem, centro de Coimbra, 25 paragens cumpridas, com apenas três minutos de atraso. Fernanda Quatorze sorri. "A viagem faz-se bem, é tranquila e mais rápida que o ônibus".

Fernanda gostou do novo serviço
Alargamento da rede
Nos escritórios do Metro, onde no meio da manhã decorria a cerimónia de inauguração, o primeiro-ministro defendeu que o projeto tem "já perspetivas de se poder desenvolver no futuro, com o seu alargamento".
Uma pretensão sublinhada minutos antes por Ana Abrunhosa, presidente da Câmara de Coimbra, que reiterou a necessidade de densificar a rede e trabalhar na sua ligação a outros concelhos vizinhos, considerando que essa expansão não pode ser atirada para um futuro longínquo.
Acompanhados do presidente do Metro Mondego, João Marrana, que prometeram um serviço de qualidade, a comitiva do Governo e convidados foram experimentar o metrobus até à Lousã, onde Luís Montenegro descerrou uma placa que assina a abertura do serviço.

Autocarros elétricos circulam numa via dedicada (Foto: João Paulo Costa)
Autarcas realçam proximidade
Também os presidentes da Câmara de Miranda do Corvo e Lousã consideram que o arranque do projeto de metrobus trará novas oportunidades e dinâmicas na região.
"É um dia de grandes oportunidades. Este projeto traz grandes desafios, mas abre muitas portas a esta região. É uma região que fica mais cosmopolita e mais próxima", disse à Lusa o presidente da Câmara de Miranda do Corvo, José Miguel Ferreira.
Também o presidente da Câmara da Lousã, Victor Carvalho, afirmou que o novo sistema de mobilidade traz "uma grande mais-valia" para os territórios servidos por este sistema de autocarros elétricos em via dedicada. "Vai ser um grande sucesso e vai trazer uma dinâmica diferente e mais forte ao nosso território", disse, acreditando que o "metrobus" também poderá atrair mais habitantes para o concelho.
De acordo com o Metro Mondego, no troço suburbano terá frequência em horas de ponta de dez minutos em Miranda do Corvo e 15 minutos na Lousã, com serviço entre as 5.30 horas e as 0.30 horas, nos dias da semana.
Na zona urbana do traçado em Coimbra, os autocarros terão uma frequência de cinco em cinco minutos em hora de ponta (7,5 minutos entre período de ponta e outros de 14 a 16 minutos), com serviço das 6 horas até por volta das 0.30 horas.
Depois da inauguração da operação entre Coimbra e Serpins, no projeto do Metro Mondego, fica a faltar a conclusão da ligação à estação ferroviária de Coimbra-B e a linha que serve os Hospitais da Universidade de Coimbra, empreitadas que se espera que possam estar concluídas em 2026 e 2027, respetivamente.

