Só a Câmara do Porto ampara 1150 agregados, sendo que há pessoas oriundas de países como o Cazaquistão ou o Bangladesh.
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É um programa de sucesso e, desde que foi criado, em 2014, já ajudou mais de 3800 famílias. Trata-se do Porto Solidário, um programa da Câmara do Porto que neste momento apoia 1150 famílias que vivem na cidade com carências financeiras e que veem parte da renda paga pelo Município. Atualmente este apoio abrange já famílias oriundas do Cazaquistão, Bangladesh, Bulgária, Alemanha e da Ucrânia.
Nos quatro concelhos mais populosos da Área Metropolitana - Gaia, Porto, Matosinhos e Gondomar - são mais de três mil as famílias que recebem apoio municipal para pagar a renda ou a prestação bancária.
No Porto, as inscrições para a 10.ª edição do programa já estão abertas e o montante a distribuir ascende aos 2,65 milhões de euros. Trata-se de um Fundo Municipal de Emergência Social destinado a famílias que, devido aos baixos salários, à perda do emprego e das prestações sociais, ficaram sem acesso a uma habitação devido ao valor inflacionado das rendas no mercado livre. Não podendo a Domus Social acolher a totalidade das pessoas nas suas casas sociais, o Porto Solidário é uma forma dos requerentes terem uma habitação condigna até conseguirem uma confortável situação financeira ou enquanto esperam por uma habitação camarária.
O valor médio mensal atribuído na última edição foi de 119,51 euros, representando um aumento de 30 euros em relação às edições anteriores. "Um cenário que reflete o impacto económico da pandemia no rendimento de muitas famílias e que vem reforçar a importância deste fundo de emergência social", como explicou a Autarquia.
Apoio durante dois anos
Devido ao aumento de pessoas sinalizadas, haverá este ano um reforço de verba e o apoio voltará a ter uma maior duração. Assim, o Porto Solidário chega agora a mais pessoas e famílias e durante mais tempo. O período de ajuda passou de um para dois anos.
Até hoje, o fundo já distribuiu 10,5 milhões de euros e para ser beneficiado o candidato tem de ser cidadão nacional, ter idade igual ou superior a 18 anos ou ser emancipado. No caso dos agregados oriundos de outros países, só beneficiam depois de obterem nacionalidade portuguesa.
Além do apoio à habitação, o Fundo Municipal de Emergência incluiu ainda dois outros eixos prioritários: apoio à inclusão de cidadãos com deficiência e apoio a instituições particulares de solidariedade social e instituições sem fins lucrativos.
Este apoio é muito importante
Vive em Portugal há 12 anos. Por um curto período esteve em Lisboa, depois em Braga e desde há muito no Porto, onde mora numa habitação de um quinto andar na Zona Histórica do Porto. "Adoro esta cidade!", diz Moamed Hoquo, de 41 anos, já naturalizado e que só saiu do país uma vez, para casar e trazer a noiva do Bangladesh.
Chegou a ter um estabelecimento comercial na Baixa da cidade, na Rua de Alexandre Braga, mas o negócio não resistiu ao impacto das obras de restauro do Mercado do Bolhão. Ainda foi motorista na Uber, contudo, um acidente resultou em lesão grave num braço. O subsídio de desemprego de 500 euros não dá para muito, ainda por cima quando se tem uma criança pequena em casa, com dois anos.
Anica, a mulher, também está desempregada e o casal passa os dias com o filho, Ayash. "Gostava de viajar até ao Bangladesh até porque a família ainda não conhece o menino", afirma Moamed. Foi através de Andreia Oliveira, assistente social no Centro Social e Paroquial de São Nicolau, que presta apoio alimentar a esta família, que o "senhor Hoquo", como ali é conhecido, teve conhecimento do programa Porto Solidário.
Esta família paga uma renda de 260 euros e tem um apoio do Fundo de Emergência Social de 189 euros. "O que é muito bom, ficando o resto para as despesas correntes", diz Moamed, enquanto recebe de Andreia o cabaz com alimentos, essencialmente legumes e fruta. Gosta de cozinhar e só pensa em arranjar emprego. Tem a casa cheia de plantas, algumas delas fruto das sementes que a sogra no Bangladesh lhe envia por carta.