Arminda Teixeira abre a porta do prédio, rente a um ATM, e não dá para acreditar: "É esta a entrada para a sua casa?". A moradora da Praça Carlos Alberto, na Baixa do Porto, confirma que sim e vai pela loja fora, entre bebidas alcoólicas, produtos alimentares e outros artigos, até à zona de acesso às traseiras do edifício, onde vive há mais de 60 anos. O proprietário do imóvel prefere não comentar e a Câmara do Porto esclarece que a loja está licenciada.
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"Isto não é um estabelecimento, é a entrada de um prédio. Se estiverem aqui pessoas a comprar, eu não passo, e já aconteceu estarem mais de 30. Era tanta gente, que nem se via o chão. Tinha de esperar para entrar em casa", conta Arminda, no meio do corredor convertido em loja: balcão de um lado e parede oposta transformada em expositor.
"Tenho quase 70 anos, e tiraram-me anos de vida com isto", lamenta-se a moradora, enquanto exibe fotografias de quando a loja, ali instalada "há uns sete anos", estava "cheia de bebidas" e com uma área de circulação ainda menor. "Queria passar com um saco de compras e não podia. Uma coisa do outro mundo. Chorei e sofri muito. Foram muitas noites sem dormir", recorda Arminda, que não esquece as intimidações de que foi alvo "quando chamava a Polícia, por causa do ruído que faziam na loja, à noite", já que esta permanecia aberta durante a madrugada.
Ação judicial
Entretanto, a inquilina moveu uma ação judicial contra o senhorio e o inquilino da loja, pedindo que esta fosse encerrada. "Como é possível alugar um estabelecimento sem água nem casa de banho e armazém?", questiona, adiantando que "o tribunal deu ordem para que tirassem tudo do lado direito [em frente ao balcão]. Mas o senhorio recorreu".
Este não é, contudo, o único problema que Arminda Teixeira enfrenta na casa que os pais alugaram nos anos 1950: além da recente instalação de uma caixa ATM na entrada do prédio e do estado ruinoso de parte do teto na zona de acesso à habitação, devido à infiltração de água no edifício, no ano passado a moradora viu-se confrontada com a abertura de uma varanda, no imóvel vizinho, que fica contígua ao terraço da casa, privando-a de segurança e privacidade.
"Era uma parede. Agora, abriram isto tudo", denuncia a sexagenária, a apontar para a porta aberta a metro e meio de altura do pátio. "Está tão baixinho que qualquer pessoa se põe cá em baixo, dentro de casa. Inclusive, já aqui caíram umas coisas das obras, e entraram para vir buscá-las, sem eu ver. Fiz uma queixa na Câmara e vieram cá os fiscais, mas disseram que está tudo bem, que [a obra] tem licença. Mas como é que abrem uma entrada para a minha casa? Não me sinto segura, porque um dia tenho aqui alguém. E se for de férias, não vou sossegada, porque a minha casa não fica em segurança", receia.