"Somos a revolução", gritaram alguns milhares de crianças, adolescentes e adultos rumo à Assembleia da República, em Lisboa, esta sexta-feira. Pedem ao Governo ações e não atos simbólicos. Querem que seja emitida a declaração de emergência climática.
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"Sabemos o que é preciso", frisou Raquel Moreira, do movimento Greve Climática: "verdadeiro investimento em energias renováveis e o "fim das concessões petrolíferas e de gás" assim como a alteração legislativa que interdita novas concessões.
Já frente ao Parlamento, os jovens exigiram ao "poder político que não tape os olhos aos dados que nos dá a ciência. "Enfrentamos a maior ameaça" ao planeta, insistiram.
A manifestação, organizada pelo movimento Greve Climática, começou tímido no Largo Camões, às 10 horas mas foi crescendo e subindo de tom até ao Parlamento. "Planeta amigo, o povo está contigo", "o que faz falta é mais ação climática" ou "não há planeta B" foram alguns dos slogans entoados. Muitos estudantes que aproveitaram a folga permitida pela greve dos assistentes operacionais nas escolas, crianças acompanhadas pelos pais foram muitos os que decidiram participar na quarta manifestação.
O movimento, explicou, ao JN, Beatriz Farelo, está a organizar uma delegação para participar numa "contra conferência" em Madrid, onde na próxima semana se vai realizar a cimeira pela ação climática.
Querem que os governos deixem de aprovar "atos simbólicos" e passem "a ações concretas", como a redução do carbono até 2030.
Greta prestes a chegar a Portugal
A vinda de Greta Thunberg a Portugal nos próximos dias é aguardada com expectativa. Beatriz considera, no entanto, que há cada vez mais "aproveitamento político e empresarial" da ativista sueca e das causas do movimento. "Há seguradoras, bancos e cadeias de lojas que se aproveitam dos nossos slogans. Não somos objetos de marketing", defende.
Rodrigo Conceição também concorda que existe aproveitamento político da mensagem transmitida por Grega Thunberg. O jovem de 17 anos já leu o livro da ativista sueca e, apesar de elogiar o impulso que ela deu ao movimento contra as alterações climáticas, acredita que a mudança não passará por uma só pessoa.
"É preciso que os governos deixem de concordar com ela e de a receber e passem a aprovar medidas consequentes com o discurso". A descarbonização e medidas que concretizem a política dos três R's (reduzir, reutilizar e reciclar) são as suas prioridades. Para a irmã, Mafalda Conceição a redução do consumo, nomeadamente de carne, são mudanças urgentes. Rodrigo aproveitou a folga permitida pela greve de funcionários nas escolas para participar na primeira manifestação. Para Mafalda e Maria Branco (as duas de 13 anos) já não foi uma estreia. Vão "para fazer a mudança".
A líder do Bloco e deputados do PCP e do PAN aderiram à manifestação. Aos jornalistas sublinharam os projetos entregues no Parlamento que são "ações concretas" que pretendem responder às preocupações do movimento. O PAN, por exemplo, entregou hoje um projeto de lei para aprovação da Lei de Bases do Clima.
"Os jovens envolvidos na greve climática estão a aprender muito mais de Biologia ou Química do que nos bancos das salas de aula", defendeu Catarina Martins, frisando os projetos do BE que propõem mais investimento na ferrovia.
Alma Rivera do PCP destacou os projetos comunistas que defendem mais financiamento nos transportes públicos. "Mais do que palavras ou declarações, são as ações e opções que se fazem a cada momento" que marca a diferença na ação política, sublinhou.
Incentivos às energias renováveis
Desde os mais pequenos aos mais velhos, todos tem uma palavra a dizer quando se fala em ambiente. António Malhão tem 7 anos, e desde os 4 anos que se preocupa com o ambiente, por iniciativa própria. "Gosto do planeta e dos seres vivos e gostava que o lixo não destruisse o planeta e que mais pessoas ajudassem a lutar", conta António, ao lado da mãe.
Inês Soeiro, cientista de profissão, foi à manifestação com o grupo Parents For Future para acompanhar as crianças que ainda não têm capacidade de se deslocarem sozinhas. "As crianças a nosso ver precisam de crescer com a sensação de que não devem ser cidadãos passivos, que devem ter uma voz ativa na sociedade", disse, apelando a "uma maior sensibilização em relação às crianças, por parte da escolas, com educação ambiental, de forma a que eles se relacionem com o planeta de uma maneira saudável".
"Portugal é capaz de se sustentar energeticamente, só não o somos por causa da questão política", revela Claúdia Coimbra, ecologista desde os 18 anos. Com o sonho de ter uma casa autossustentável, através de energias renováveis, Claúdia critica a dimensão dos impostos cobrados todos os anos, afirmando que "as entidades não apoiam os particulares".
Francisco, estudante do 11º ano, tem 16 anos e esteve presente em todas as manifestações nacionais e estudantis da greve climática. Para o estudante algumas das medidas que o governo deveria instaurar seria a "alteração dos autocarros a gás natural por autocarros elétricos, acabar com a exploração fóssil e a promoção da dieta vegetariana pela menos um dia por semana", sublinhando que "é necessário e urgente arranjar alternativas elétricas e ecológicas".