Para encerrar a semana de Receção ao Caloiro da Academia portuense, o tilintar de milhares de latas pintadas regressou às ruas da Baixa neste domingo. Apesar da chuva, a emoção e a alegria marcaram o regresso da tradicional Latada.
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Quando o cortejo acaba, são poucos os caloiros que mantêm o mesmo número de latas do início. Mas a missão de Catarina Letras, caloira de Criminologia, era diferente. Com mais de 80 latas presas ao corpo, a estudante explicou que o objetivo era "não perder nenhuma ou o menos possível".
Na família dela, cumpre a tradição das latas passarem pelas várias gerações. "Algumas destas desfilaram pela primeira vez há dez anos com uma prima minha". Catarina é a quarta pessoa da família a reutilizá-las: "É um orgulho muito grande, como é natural".
É após o cortejo da Latada que os caloiros são batizados e passam, simbolicamente, a estudantes da Academia do Porto. Para Nádia Gonçalves, amiga de Catarina e também caloira de Criminologia, "é um momento de integração e especialmente de grande amizade". "Conhecemos pessoas que se cruzam connosco na mesma etapa, com quem vamos criar e partilhar memórias", sustentou.
Apesar de ter fugido às tradições académicas na altura da sua licenciatura, Lígia Pacheco esteve presente para acompanhar a filha Beatriz no desfile. "Pessoalmente não gosto disto. Mas ela adora e eu apoio. É importante estarmos aqui na mesma" disse, enquanto ajudava a filha a vestir as latas, momentos antes do cortejo arrancar.
Caloiros com adereços únicos
Pouco depois do início do desfile, a chuva surgiu em força. "Ainda mal começou e já fomos abençoados pelo S. Pedro", brincou Filipa Matos. Ainda que tenha entrado há pouco tempo na vida académica, a estudante de Nutrição da Faculdade de Ciências não tem dúvidas: "Caloiro que é caloiro vem, mesmo com a chuva".
Ao lado dos amigos da faculdade, não escondeu a alegria. "É sobre a emoção e a tradição", disse Filipa, enquanto cantava ao lado dos amigos, de perucas com as cores do curso (amarelas).
No que toca a adereços, não faltou diversidade.
Desde uma banheira cheia que fazia alusão ao mau tempo e às cheias da cidade, transportada pelos caloiros de Informática da Universidade Portucalense, até aos penicos únicos e personalizados da Universidade Católica.
Os caloiros da Católica personalizaram os penicos com os respetivos nomes de praxe. A caloira Maria Velosa, de Psicologia, é conhecida como "A perra". "Por isso, decidi enfeitar com várias dobradiças das portas", explicou.
Já no curso de Bioengenharia, os caloiros usavam toucas e óculos de natação. Entre os novatos, Matilde Correia expressou a emoção da Latada, que chegou a ser adiada devido ao mau tempo: "Nunca sabemos o que vai acontecer nestas atividades. É preciso é vir com vontade. Espero que seja isso que transmitimos no final".
"É muito importante para nós e para as famílias"
A união e amizade entre os caloiros da Faculdade de Desporto sentia-se de longe enquanto os estudantes vibravam e cantavam as músicas do curso.
"É um momento que só vou experienciar uma vez na minha vida. Há que aproveitar", disse a caloira Francisca Lopes, que sublinha a importância desta fase académica e da Latada para as famílias e os estudantes. "É muito importante para nós e para as famílias. É o início das nossas vidas e é claro que os nossos pais se sentem orgulhosos", observou.
E mesmo com a chuva, as famílias não quiseram perder o momento e continuaram a ver a descida na Rua de Camões.
Os pais e o irmão de Matilde Branco fizeram questão de estar presentes, apesar da distância. Depois de mais de três horas de carro desde Coruche, Santarém, Elisabete (mãe) descreveu o sentimento de orgulho.
"A Matilde veio para muito longe e no início isso assustou-nos. Mas estamos encantados com o Porto e ela diz que adora. Hoje tínhamos que estar aqui", referiu.