D. Manuel Linda iniciou a bênção das pastas dos finalistas da Academia do Porto, este domingo de manhã, com o provérbio habitual dos dias de chuva: "Boda molhada, boa abençoada". Por conta, precisamente da chuva, a cerimónia acabou por ser mais curta, mas ninguém arredou pé dos Aliados.
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Chovia torrencialmente quando D. Manuel Linda anunciou que não iria ler a tradicional homilia: "Sei que a fiz com muito carinho, mas já estais suficientemente molhados", acabando por resumir o discurso de forma improvisada: "Que a vossa alegria seja completa", uma vez que "o segredo da felicidade está no amor".
Neste domingo em que se assinala o Dia da Mãe, o bispo do Porto também não esqueceu as muitas mães que ali estavam presentes: "Parabéns mães, esta festa é vossa". Mas depois de uma hora e um quarto de missa, em que a chuva não deu tréguas, D. Manuel Linda elogiu os milhares que "mantiveram-se impecavelmente, mesmo com condições adversas", concluindo: "O Norte sabe estar". Desabafo que originou uma imensa salva de palmas.
Por conta das obras do metro, a missa de bênção das pastas, regressou aos Aliados, "ao coração" da cidade, como se ouviu na missa, situação que já não aconteceia desde 2019.
E, por conta disso, muitos finalistas, acompanhados pelas famílias, fugiram ao problema de onde estacionar na Baixa e foram de metro. Rafael Pacheco, 22 anos, residente na Maia, foi um desses casos. Ainda faltava quase uma hora para a cerimónia, e já estava na estação da Trindade, acompanhado pelos pais, namorada e padrinhos.
O finalista de Ciências e Tecnologias da Documentação e Informação resumiu o que lhe ia na cabeça, chegado à reta final do curso de três anos: "Lembro-me sobretudo do esforço que valeu a pena, da muita ajuda e do muito sacrifício que os meus pais fizeram para chegar até aqui e, por isso, agora é hora de festejar".
A mãe, Lara Lopes, "50 anos feitos na sexta-feira", confessou que o momento vivido neste domingo era "emocionante", aproveitando a ocasião para elogiar, embevecida, "a persistência" do filho.
Já o pai, António Pacheco, 55 anos, de café na mão antes de se fazer à chuva, sublinhou "o esforço muito grande" que a família fez para Rafael "chegar a bom porto". E chegado, a emoção tomou de assalto o coração do pai, que não conseguiu dizer mais nada.
Pelo mesmo caminho foi a madrinha "por afinidade", Raquel Marques, 39, desabafando, entre lágrimas, que Rafael "é um excelente rapaz". E, por isso, "tínhamos de cá estar", completou o padrinho, Nuno, de 42 anos.
Aliás, o JN comprovou que no Dia da Mãe, os pais foram os que mais choraram de emoção. E que bonito foi assistir a essa partilha.
Também na Trindade, a abrigar-se da chuva estava a família de Diana Carvalho, 21 anos, finalista da Educação. Além dos pais, Sónia e Joaquim, de Paredes rumaram também "os avós e padrinhos, o irmão, Leandro, e o namorado". Enquanto a avó Rosa exprimiu "o orgulho de ter, pela primeira vez, uma neta a chegar a este patamar" da Universidade, o pai não escondeu "a felicidade" de tamanho feito, salientando que ele e a mulher não tiveram "essa possibilidade".
Encostada ao Palácio dos Correios numa tentativa de se abrigar da chuva, Rita Leite, 20 anos, de Santa Maria da Feira, tentava saber ao telemóvel onde estavam "o pai, os primos e os tios". Acompanhada pela mãe, Angélia, e pela avó, Maria Rosa, a finalista de Contabilidade falou, mais reservada, da "alegria" que estava a viver. Coube à mãe falar "da batalha que durou os três anos do curso ". "Foi uma conquista que a Rita alcançou com determinação", acrescentou. Já a avó desabafou sobre a satisfação de "ver uma terceira neta a concluir o curso". "Nem a chuva nos vai estragar a festa", concluiu Angélica.
Pedro Fernandes, 21 anos, de Castelo de Paiva, finalista de Design de Comunicação, mostrava-se este domingo visivelmente orgulhoso de estar "a fechar um ciclo", recordando que todos os dias para ir para a faculdade, no Porto, demorava "duas horas em transportes (quatro horas por dia)". A mãe, Georgina Costa, congratulou-se com o feito do filho: "Nunca pensei estar aqui! Estou muito feliz e orgulhosa", desabafou.
Já Cristina Almeida, 56 anos, mãe de Beatriz, finalista de Ciências da Comunicação, assumiu que o percurso académico da filha única "claro que é um orgulho". Mas assume que tem "receio do futuro", ainda que saiba que a jovem "empenha-se bastante". Talvez, por isso, diga sem reversas que espera que Beatriz "vá mais longe", com uma carreira que, no entender da mãe pode passar "pelo ensino". E explicou: "O ensino vai ter futuro, até porque vai ser preciso novos professores". Já o pai, Rui, recordou a menina que "desde o 7.º ano acalentava o sonho de ser jornalista". "Este dia é de realização, uma vez a Beatriz alcançou o que sempre quis ser", referiu, orgulhoso. Os avós paternos, Lucília e António Domingos, também fizeram questão de estar presentes.
E num mar de gente, onde só se avistavam guarda-chuvas abertos por todo o lado, difícil para os estudantes foi mesmo aguentar a intempérie com os trajes completamente encharcados.