<p>Está aberta a época das capeias arraianas no concelho do Sabugal. Ontem, quinta-feira, na Lageosa da Raia, numa praça improvidada e apinhada, lidaram-se os primeiros touros de um ciclo tauromáquico único no país e no mundo que atrai milhares de pessoas. Até dia 25, todos os caminhos dos aficionados vão dar a várias aldeias deste município.</p>
Corpo do artigo
"Esta é a melhor festa que há em Portugal", assegura Juan Holgado, vindo de Navasfrias, do outro lado da fronteira, que não perde uma capeia há, "pelo menos, 30 anos". "Pode ser um acontecimento magnífico, mas também uma grande decepção caso os touros não invistam com bravura", adianta, classificando de "impressionantes" os dois primeiros exemplares da tarde. E não é para menos, cada um deve pesar mais de 400 quilos e bateu forte no forcão, uma estrutura de madeira carregada e manobrada por 30 homens nesta lide peculiar. É o elemento que faz toda a diferença na capeia, já considerada um património etnográfico do Sabugal, município encostado a Espanha.
Aqui, os animais são reis, a tal ponto que a autarquia propangandeia ser esta "a única festa tauromáquica onde os touros não sofrem". Por esta altura, já o segundo investe nas galhas do forcão, tentando contorná-lo. Mas os homens estão atentos e aguentam o embate, alentados pelo grito característico da capeia. Mais uma vez, o método rudimentar dos antepassados cumpre a sua função ritual: derrota a fera e inicia os mais novos no mundo dos adultos.
Para Maria Leal, da freguesia vizinha dos Fóios, só é pena esta tradição não ter maior divulgação, pois não há melhor. "Isto é superior a Barrancos e a outras touradas, é uma capeia, está tudo dito", garante, confessando que fechou o seu comércio na Guarda para ver o espectáculo. De resto, este é um acontecimento pelo qual os raianos aguardam ansiosamente todos os anos: "Até é mais importante que a festa de Nossa Senhora das Neves [a padroeira da aldeia]. Para mim não há férias sem uma boa capeia, sinto-me frustrado se não puder pegar ao forcão. Preciso daquela adrenalina, faz parte dos arraianos e é um dia que não esquecemos até à próxima", admite Francisco Peres, de 43 anos, emigrado em França.
A festa tem um ritual que começa logo de manhã com o encerro dos touros pelas ruas das aldeias e um 'boi da prova', que mais não é que um 'aperitivo' para o que aí vem. A capeia propriamente dita acontece a meio da tarde, lidando-se então seis touros com um forcão feito de troncos de carvalho. No fim, os animais voltam aos lameiros por onde vieram, pelas ruas, rodeados de cavaleiros e populares. Um filme que vai repetir-se várias vezes até dia 25, com a última capeia do ano em Aldeia Velha, que costuma proporcionar uma despedida em grande. Até lá, estão programadas mais 12, sendo de maior tradição as da Lageosa da Raia, Aldeia de Bispo (dia 10), Soito (dia 11), Aldeia da Ponte (dia 15), Alfaiates e Forcalhos (ambas no dia 17), Fóios (dia 18) e Aldeia Velha (dia 25).
Mas há mais oportunidades para ver este acontecimento genuíno em Ozendo e Rebolosa (dia 12), Nave (dia 14), Vale de Espinho (dia 17) e uma nocturna em Vale das Éguas (dia 20), além de duas garraiadas em Ruivós (noite de sábado) e Seixo do Côa (dia 10). A festa culmina com o autodenominado 'campeonato do mundo do forcão', marcado este ano para a praça de Aldeia da Ponte. No dia 22, várias aldeias medem forças no tradicional festival 'Ó Forcão Rapazes'.