Presidente da Câmara de Celorico de Basto defende a regionalização como medida fundamental para avançar com as medidas de coesão da Região Minho
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Joaquim Mota e Silva poderá ser considerado um “case study” da política nacional. Em Celorico de Basto, Albertino Mota e Silva foi sucedido no cargo de presidente da Câmara pelo filho. São poucos os casos bem sucedidos de… sucessão no país, mas Joaquim realça que a “passagem” não é pêra doce. “Temos de provar muito mais para justificar a confiança do povo”, alega. E tem provado, Joaquim, sendo já figura emergente no panorama político regional, com fortes probabilidades de vir a guindar-se para patamares nacionais. A regionalização é uma das suas bandeiras, a par dos projectos sociais que tornam Celorico num exemplo de ajuda municipal aos mais necessitados.
A convulsão política que vive o país pode levá-lo a pretender ascender a outros patamares?
Sou autarca há 12 anos, primeiro como vereador e agora como presidente de Câmara. Sinto-me bem. Tenho um projecto para realizar, mas não significa que espere até atingir os 12 anos de limite imposto pela legislação. Não nego outro tipo de experiências, seja na área política ou empresarial, porque tenho uma formação em Gestão de Empresas, onde já trabalhei. De resto, esta formação permite ter a sensibilidade para efectuar cortes nas despesas, sem tolher o desenvolvimento do concelho e sem cortar nas necessidades sociais das pessoas. Sou, porém, contra a política de trampolim. Quando estamos num sítio devemos estar a cem por cento. Se fizer o que tinha prometido e houver uma hipótese de fazer outro trabalho, noutro sítio, todos têm a ganhar.
Assume uma vice-presidência na Distrital de Braga do PSD?
A Distrital do PSD é muito jovem e tenho muita confiança no seu papel, porque aposta na renovação, sem entrarmos em confronto com as pessoas que saíram. Somos dois os presidentes de Câmara que assumem as vice-presidências e um vice-presidente de Câmara na presidência. Temos imensos desafios para o futuro, naquilo que são grandes apostas no distrito, para 2013, e também lutas importantes no panorama nacional, onde o distrito de Braga teve maus resultados. Primeiro, interessa perceber o que se passou e depois actuar no sentido de estar sintonizado com os problemas da população e ter um discurso com ideias e com conteúdos que vá de encontro às perspectivas das pessoas. Esta gente nova tem uma percepção do que são os novos modelos de comunicação e de ideias novas para dar um salto em frente e beneficiar as regiões do Cávado, Ave e Tâmega.
A região está, porém, mergulhada numa profunda crise, decorrente do desemprego. Já têm diagnosticado o problema para avançar com a cura?
O problema da região é estrutural e de formação. O índice de educação é muito baixo, as indústrias ficaram obsoletas e fomos ultrapassados ao nível de competitividade. As fábricas fecharam. As pessoas que foram para o desemprego já têm uma idade que não lhes abre grandes perspectivas. Uma pessoa com cinquenta e tal anos que está em casa começa a transformar-se num drama humano, porque começam a aparecer conflitos e começa a transformar-se num problema da comunidade. Esta região vive uma fase de depressão colectiva.
E quais são, então, as medidas urgentes a implementar?
O cenário pode e deve ser invertido, investindo em novas áreas, porque até aqui só tínhamos o têxtil. É um erro apostar na concentração. Temos de diversificar, apostando nas tecnologias, através da ligação às universidades e novas áreas de negócio. Em Celorico de Basto, temos um potencial enorme em termos de biomassas e energias alternativas, na exploração florestal. O distrito de Braga tem um potencial enorme em termos de turismo, nas vertentes de património histórico e da religiosidade. Mas o turismo não é o único elemento de crescimento e há bons exemplos de actividade produtiva. Há empresários dispostos a investir, mas é necessário haver uma estratégia e um rumo.
Tem defendido a regionalização, como fundamental para o salto qualitativo desta região de Entre Douro e Minho. Acha que este modelo administrativo vai finalmente avançar?
O modelo político precisa de ser reformulado. A regionalização é importantíssima, porque sem essa reforma administrativa, em Lisboa não vão querer saber como é que se dará o desenvolvimento integrado da região de Entre Douro e Minho. Vemos a Madeira, os Açores e o Vale do Tejo a desenvolverem-se e o resto do país a marcar passo. É tempo de os políticos novos, com coragem, imporem o que é importante para a realidade em que vivemos. O problema é que todos os quadros comunitários vão passar e a regionalização sem estar implementada.
Quando acontecer, onde está o dinheiro para avançar com a política de coesão?
Este estado de coisas fomenta a política de sacristia, em que cada um procura assegurar financiamento para os seus municípios. A continuar neste quadro, na região de Entre Douro e Minho arriscamo-nos a ser um bando de mendigos que vai a Lisboa pedir as coisas a que tem direito.
Haverá a vontade política dos dois maiores partidos, para que a regionalização avance de facto?
Pelo que tenho assistido, a nível de PSD e de cúpulas, penso que há essa sensibilidade. E no PS também há esse pensamento. Se calhar, em Lisboa é que podem pensar de forma diferente, mas a evolução terá de acontecer, se calhar mudando o sistema semipresidencialista e, com certeza, reduzindo o número de deputados. Não são necessários os actuais 230 deputados. Bastam 170. Terceiras filas e quartas não são precisas. Precisamos é de pessoas com responsabilidade que discutam os assuntos que interessam às populações.
Sucedeu ao seu pai no cargo de presidente da Câmara. Houve quem visse nisso uma espécie de sucessão monárquica ...
Para quem não quer fazer nada, ter um pai prestigiado é bom, mas para quem tem ambição e quer fazer alguma coisa, tem de provar a sua competência dez vezes mais que qualquer cidadão. Há, na história portuguesa, três filhos de presidentes de Câmara que se candidataram e ganharam as eleições. Eu sou o terceiro caso. Mas os títulos ficam para as monarquias. Candidatei-me porque quero levar o concelho para patamares mais elevados.
A área social é uma das mais fortes apostas em termos autárquicos?
É uma área em que somos precursores na região. O programa Celorico a Mexer envolve todos os idosos do concelho, em actividades desportivas, dança, numa lógica integrada das freguesias, ultrapassa o conceito do vulgar centro de dia. Tem uma lógica mais interactiva que coloca as pessoas de todas as aldeias em diálogo. Mas podemos acrescentar os programas “Oficina Móvel” em que fazemos reparações em casa das pessoas idosas, uma unidade móvel de saúde, com vacinas preventivas e diagnóstico para os mais idosos. Temos a instalação de equipamentos sociais que fazem uma rede completa. Estamos na linha da frente e ainda bem, porque com o período de dificuldades que vivemos, estas instituições e os equipamentos sociais podem dar resposta e ajudar as pessoas que estão numa situação de pobreza extrema.