O Município de Miranda do Douro espera perto de duas centenas de participantes na cerimónia de exaltação da Capa de Honras, no próximo domingo, momento em que esta peça de vestuário típica e originária do concelho sai à rua em massa.
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A iniciativa foi suspensa nos anos de 2020 e 2021 devido às contingências impostas pela pandemia de covid-19, pelo que a presidente da Câmara de Miranda do Douro, Helena Barril, espera que a retoma seja uma festa "marcante".
A capa de honras mirandesa, ex-líbris do artesanato local, não só não se perdeu no tempo como é cada vez mais cobiçada por locais e estrangeiros, nomeadamente espanhóis, sendo usada em receções oficiais ou de individualidades em visita ao concelho. "É um momento alto no concelho, e habitualmente, muito participado. Muita gente se inscreveu este ano para participar, o que é natural, porque nos últimos anos não se realizou, o que aguçou mais o apetite", referiu Helena Barril.
A capa confecionada em burel castanho, com recortes em preto, é um traje caro que pode custar entre 700 a 800 euros, depende do trabalho manual que exige. São precisos mais de seis metros de tecido para uma capa de tamanho médio, sendo que um artesão sozinho pode demorar cerca de um mês a concluir uma destas capas, que pesa cerca de oito quilogramas (antigamente chegava a pesar 15).
Da cerimónia a realizar no domingo faz parte um desfile que poderá integrar mais de duas centenas de pessoas, homens e mulheres, trajando capa de honra. A peça de vestuário era antigamente usada só pelos homens em ocasiões especiais ou cerimónias no concelho de Miranda do Douro, mas nas últimas décadas foi valorizada e atualmente é recriada em outros artigos mais funcionais e correntes, como malas, carteiras, tapetes e objetos de decoração e vestuário feminino.
Capa nas costas do mundo
A capa já chegou à moda internacional e inspirou o estilista português Nuno Gama e o designer Christian Louboutin. Em 2019, o anterior presidente da Câmara, Artur Nunes, entregou um exemplar ao Papa Francisco, confecionado pela artesã Maria Suzana de Castro.
O município está a trabalhar para inscrever a Capa de Honras na matriz do Património Cultural Mirandês e, posteriormente, no património nacional dada "sua importância", destacou Helena Barril.
Durante a cerimónia de exaltação, o município vai homenagear o artesão Aureliano Ribeiro, falecido em junho de 2020, considerado um dos grandes responsáveis pela preservação da arte de confeção deste traje.
"É um dos artesãos que dedicou parte da sua vida à capa de honra. Mandámos fazer um quadro sobre ele a Balbina Mendes, artista natural de Miranda do Douro, que será instalado aqui nos paços do concelho. O nosso objetivo é criar um espaço com o nome dele para preservar a sua memória, gostávamos de reunir algum do seu espólio, mas temos ainda que falar com a família", explicou a autarca.