Presidente da Câmara de Lisboa aceitou fazer "estátua ou busto" de antigo primeiro-ministro. CDS criticou e autarca do PSD voltou atrás na decisão.
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O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, aceitou criar um monumento de homenagem ao general Vasco Gonçalves, mas voltou atrás após críticas do CDS-PP, partido com quem tem uma coligação na autarquia.
Um dia depois de aceder ao desafio da Associação Conquistas da Revolução para construir "uma estátua ou um busto" do antigo primeiro-ministro durante o Processo Revolucionário Em Curso (PREC), disse que "nunca" fez tal promessa.
A ideia partiu do presidente da Associação Conquistas da Revolução, Manuel Begonha, que apresentou a proposta de homenagem a Vasco Gonçalves, anteontem, na reunião pública da Câmara de Lisboa.
Em resposta à intervenção de Begonha, Moedas frisou que "em relação à construção de um monumento, eu penso que trabalharemos convosco um bocadinho mais na definição desse monumento, se seria uma estátua ou se seria um busto".
O autarca referiu que "é importante para a democracia" continuar a homenagear Vasco Gonçalves, explicando que o município até já atribuiu o seu nome a uma rua.Além da vontade de continuar a glorificar o ex-político, Moedas manifestou a disponibilidade de trabalhar com a associação: "Vou dar ordem para que isso aconteça e para que se possa começar a trabalhar nesse sentido".
No dia seguinte, contudo, em declarações ao Observador, o presidente do município recuou. Disse que ouviu "uma pessoa na reunião de câmara" e limitou-se a manifestar disponibilidade para "marcar uma reunião". "Nunca fiz nenhuma promessa sobre nenhuma estátua até porque não posso fazer promessas sobre esse tema", garantiu o autarca.
Uma mudança de planos que surge depois do CDS de Lisboa ter anunciado que votaria contra qualquer "homenagem, monumento ou evocação" ao general Vasco Gonçalves até porque, segundo o partido, esta consagração não está prevista no contrato de coligação com o PSD para a autarquia de Lisboa.
"O pior do PREC"
O CDS disse que o ex-chefe dos governos provisórios em democracia simboliza "o pior" do PREC na tentativa de "implantação de um regime totalitário" pela extrema-esquerda após o 25 de Abril.
Numa nota assinada pela líder na Assembleia Municipal de Lisboa e porta-voz da direção do CDS-PP, Isabel Galriça Neto, o partido justificou ainda a posição com o facto de "o CDS ter estado sempre na linha da frente do combate político a tudo aquilo que Vasco Gonçalves significou".
Apesar das críticas, garantiu que "a coligação no governo do município está coesa".
Críticas
O ex-líder do CDS, Manuel Monteiro, e o grupo municipal da Iniciativa Liberal (IL) de Lisboa criticaram, ontem, a intenção do presidente da Câmara de Lisboa de homenagear Vasco Gonçalves.
A Iniciativa Liberal disse que "condena veementemente" a ideia da criação do monumento e que o general "não merece uma estatueta que seja" na cidade uma vez que é "uma personagem iliberal que tentou coletivizar o país, preferindo uma ditadura de esquerda".
Os três deputados municipais da IL eleitos na Assembleia Municipal de Lisboa consideraram que "qualquer homenagem é uma afronta às vítimas do PREC e do COPCON [Comando Operacional do Continente], que fazia prisões arbitrárias e mandados de captura em branco".
O ex-líder do CDS-PP Manuel Monteiro também considerou "lamentável que o presidente da câmara admita participar numa homenagem a alguém que teve a responsabilidade de quase provocar uma guerra civil em Portugal, que quis instaurar um regime ditatorial totalitário em Portugal".
Manuel Monteiro avisou ainda o autarca para que "tivesse o cuidado de nunca se esquecer que lidera uma câmara em coligação de partidos".