Momentos de aflição em Vila do Conde. "Juro que só pensei: 'Vou morrer aqui afogada'"

Em alguns locais, a água subiu quase dois metros
Foto: Ana Trocado Marques
Conceição Ferreira mora em Vila do Conde há mais de meio século e, aos 85 anos, nunca viu "coisa igual". "Parecia o fim do mundo!", atira, ainda sem parar de tremer, mesmo que agora já não veja só água em redor. Na rua da Lage, em Modivas, a ribeira galgou as margens, inundou as ruas, levou muros e portões à frente e invadiu as casas. Em alguns locais, a água subiu quase dois metros. Durante a madrugada, nem os bombeiros lá conseguiam chegar. Entre gritos de desespero e gente que perdeu tudo, valeu a entreajuda.
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"Juro que só pensei: Vou morrer aqui afogada", continua a contar Conceição, sem conseguir conter as lágrimas. Só via a água a subir. Vive sozinha. Com as estradas todas cortadas, os filhos não conseguiam lá chegar. Teve medo, "muito medo". Valeu-lhe a vizinha da frente, que "atravessou a rua agarrada ao marido e a um pau, com água pela cintura", para a ir amparar. Eram 5 horas. Às 10.30, Conceição ainda tinha a cave da casa com água até ao teto. Perdeu tudo o que lá estava: a cozinha, o fogão, as arcas com roupas, o ferro de engomar, a arca frigorífica. Entre os vizinhos, há quem tenha ficado "quase sem nada".





Fotos: Ana Trocado Marques
"Foram horas muito difíceis! Entre as 3 e as 6.30 horas, era tanta chuva e trovoada que, às 7, eu ainda não tinha conseguido cá chegar. Tivemos a rua da Lage cortada, a EN13 cortada, não havia como passar. Felizmente, os moradores trabalharam em comunidade e ajudaram-se uns aos outros", contou o vice-presidente da Junta de Freguesia de Modivas, Paulo Costa, que, desde as primeiras horas da manhã, está no terreno a ajudar.
