Morador de Gondomar relembra aflição: "Quando dava aqueles estoiros, ai meu Deus!"
O rescaldo do incêndio que destruiu cinco pavilhões de uma fábrica de produtos químicos em S. Cosme, Gondomar, prolongou-se durante este domingo. Os moradores recordam momentos de aflição com explosões, labaredas enormes e uma nuvem de fumo negro imensa.
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Debruçada numa janela do "prédio construído pelo dono [fundador] da fábrica" da Sociedade Portuense de Drogas, em S. Cosme, Gondomar, Fátima Veloso tem os olhos postos na colossal unidade de fabrico de produtos químicos que ardeu anteontem. E teme: "Só a imagem que a gente vê já dá para assustar. No espaço de 20 anos, isto cresceu que Deus me livre! Fizeram muitos pavilhões".
A vizinha da empresa de raiz familiar fundada em 1953 recua um quarto de século para recordar o incêndio anterior, que também sobressaltou quem mora ao redor do número 550 da Rua da Cavada. "Já é a segunda vez que passamos por isto, e foi muito assustador. Mas tivémos sorte, porque o vento estava para o outro lado. Se não, não podíamos ter ficado cá [em casa]", atira a moradora, enquanto observa as operações de rescaldo, que só ficaram concluídas durante a tarde de ontem.
Visível a vários quilómetros, a coluna de fumo negro que se ergueu no céu amedrontou quem mora nas imediações, mas o presidente da Câmara de Gondomar, Marco Martins, assegurou ontem, ao JN, que "os riscos ambientais estão acautelados".
Indicando que ficaram destruídos cinco pavilhões, o adjunto do Comando dos Bombeiros de Gondomar, Nelson Oliveira, adiantou que o risco de poluição atmosférica e de cursos de água "está a ser avaliado pelas entidades competentes, como a Agência Portuguesa do Ambiente".
"Acho que estas fábricas perigosas, de químicos, deveriam ser construídas em sítios mais isolados. Isto [incêndios ] não acontece todos os dias, mas um dia há azar, e dá para afligir", reflete Guilhermina Martins, que há 46 anos vive a pouco mais de um quilómetro da empresa, que começou por ser "uma coisa muito pequenina e cresceu muito" ao longo dos anos.
"Quando dava aqueles estoiros, ai meu Deus! Metia medo. Assustei-me. Tremia toda. Eram uns estoiros atrás de outros", descreve a residente, aliviada porque "ninguém se feriu", mas preocupada porque a fábrica "está muito perto das casas, e podia ter sido pior". "Estávamos fora, e o meu medo era que chegasse à casa", disse Sara Sousa, que há três anos mora diante da unidade fabril.
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A acompanhar o rescaldo, Marco Martins avançou que está a tentar identificar, junto do Governo, as "linhas de apoio que pode haver ou não" para ajudar a empresa.
Com o risco de poderem colapsar algumas estruturas, ontem ainda não estavam reunidas as condições de segurança para que a PJ se deslocasse à fábrica, a fim de recolher indícios que permitam apurar as causas do incêndio.
O JN tentou, sem sucesso, falar com os donos da empresa, que, segundo conseguimos apuramos, estaria a laborar na altura do incêndio.