"Quando para aqui vim morar, há 51 anos, nunca pensei que a minha vida se iria tornar um inferno!", afirma Maria Celeste Pereira, que reside na Rua dos Mártires da Liberdade e que, nos últimos seis anos, tem sido uma das vozes mais contestadoras contra o "botellón" praticado mesmo em frente ao quarto onde dorme.
Corpo do artigo
O marido, Carlos, não aguenta a exaustão física e emocional. Dorme quase sempre no sofá, na parte traseira do apartamento. "Ele usa tampões nos ouvidos, mas ainda numa destas noites o apanhei a dormir com um dos dedos enfiados no ouvido", conta Celeste, que tem vindo a perder a audição e por isso vai "aguentando melhor".
Aqui, como na Rua do Almada, na Picaria ou Cedofeita, a grande parte dos moradores já se habituou a "tomar comprimidos para dormir". No Largo Monpilher, Elisabete, Maria José, Teresa e Augusto falam do regulamento para o qual alguns deles já contribuíram com sugestões. Concordam com as alterações mas pedem mais fiscalização. Debatem se o consumo de bebidas alcoólicas na via pública é ou não permitida por lei. "Eu não concordo, porque é isso que potencia o barulho", diz Maria José Pinheiro.
A luta de Elisabete Neves contra o barulho noturno já é antiga. Reside e gere uma empresa no Largo Monpilher e a proliferação das esplanadas "foi a gota de água", por impedirem o acesso à porta do seu prédio. "Pior que o barulho das pessoas é a música", diz, explicando que dorme poucas horas por noite. "Primeiro é a música, depois os carros da recolha de lixo", acrescenta.
Na Cordoaria, Sara está na varanda e vê os funcionários de bares a lavarem o pavimento e a distribuírem cadeiras e mesas das esplanadas. "Continuo a chamar a Polícia muitas vezes. Às duas e três vezes por semana mas de nada vale", refere. A mãe tem 90 anos e o filho está numa cadeira de rodas, ficou paraplégico há três anos. Já instalou vidros duplos nas janelas mas o barulho é mais forte. Paula Amorim, outra "lutadora" e que por diversas vezes já colocou o problema em reuniões de Executivo e da Assembleia Municipal do Porto, passeia o cão. Acredita que as coisas "vão mudar com a revisão do regulamento mas o que é preciso é fiscalização".